A SOCIEDADE BRASILEIRA E A POESIA FALADA E CANTADA
Letras de música: Internet
Textos: José Floriano Oliveira
BRASIL COLÔNIA
O texto que segue não tem nada de original, visto que, em finais dos anos setenta do século passado, já escrevi outro, homenageando o Dia Internacional da Mulher com este formato. Retorno, com o formato, apresentando a sociedade brasileira através da música sem, no entanto, considerar como um trabalho concluído.
Na realidade, a caminhada que nos propomos apresentar passa muito mais pelos seus dissabores contada com ironia, muito das vezes, outras, como protesto, De qualquer forma, é a sociedade que está presente com todas suas mutações.
Erro de português Osvaldo de Andrade Quando o português chegou Debaixo duma bruta chuva Vestiu o índio Que pena!Fosse uma manhã de sol O índio tinha despido O português |
Certo dia, em finais do século XV, o Brasil foi descoberto. DESCOBERTO? Falha nossa, ou é assim que os compêndios oficiais grafam a História do Brasil para os nossos alunos, ou melhor, para nossos filhos. Absurdo?
Caminhemos com nossos poetas:
Invadido o Brasil, sem resistência, vem os homens de vestes negras, que não conseguem ficar distante do Poder, fincam uma cruz e pregam a primeira cerimônia religiosa do homem branco, para, depois, escravizá-lo e Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro assim cantou:
Canto das Três Raças
Compositor: Mauro Duarte / Paulo César Pinheiro
Ninguém ouviu
Um soluçar de dor no canto do Brasil
Um lamento triste sempre ecoou
Desde que o ÍNDIO guerreiro foi pro cativeiro e de lá cantou
NEGRO entoou
Um canto de revolta pelos ares
Do Quilombo dos Palmares
Onde se refugiou
Um soluçar de dor no canto do Brasil
Um lamento triste sempre ecoou
Desde que o ÍNDIO guerreiro foi pro cativeiro e de lá cantou
NEGRO entoou
Um canto de revolta pelos ares
Do Quilombo dos Palmares
Onde se refugiou
Fora a luta dos INCONFIDENTES
Pela quebra das correntes, nada adiantou
E de guerra em paz, de pazem guerra
Todo povo dessa terra quando pode cantar
Canta de dor
E ecoa noite e dia
É ensurdecedor
Ai, mas que agonia
O canto do trabalhador
Esse canto que devia ser um canto de alegria
Soa apenas como um soluçar de dor
Pela quebra das correntes, nada adiantou
E de guerra em paz, de paz
Todo
Canta de dor
E ecoa noite e dia
É ensurdecedor
Ai, mas que agonia
O canto do trabalhador
Esse canto que devia ser um canto de alegria
Soa apenas como um soluçar de dor
Candeia, grande compositor, escreve Dia de Graça e homenageia o carnaval, a mulata e lembra ao negro que, o ser escravo não privilégio seu. Portanto, esqueça a idéia preconceituosa de que ser negro é ser menor:
DIA DE GRAÇA
Candeia
Hoje é manhã de carnaval (ao esplendor)
As escolas vão desfilar (garbosamente)
Aquela gente de cor com a imponência de um rei, vai
As escolas vão desfilar (garbosamente)
Aquela gente de cor com a imponência de um rei, vai
pisar na passarela (salve a Portela)
Vamos esquecer os desenganos (que passamos)
Viver alegria que sonhamos (durante o ano)
Damos o nosso coração, alegria e amor a todos sem distinção de cor
Mas depois da ilusão, coitado
Negro volta ao humilde barracão
Negro acorda é hora de acordar
Não negue a raça
Torne toda manhã dia de graça
Negro não humilhe nem se humilhe a ninguém
Todas as raças já foram escravas também
E deixa de ser rei só na folia e faça da sua Maria uma rainha todos os dias
E cante o samba na universidade
E verás que seu filho será príncipe de verdade
Aí então jamais tu voltarás ao barracão
Vamos esquecer os desenganos (que passamos)
Viver alegria que sonhamos (durante o ano)
Damos o nosso coração, alegria e amor a todos sem distinção de cor
Mas depois da ilusão, coitado
Negro volta ao humilde barracão
Negro acorda é hora de acordar
Não negue a raça
Torne toda manhã dia de graça
Negro não humilhe nem se humilhe a ninguém
Todas as raças já foram escravas também
E deixa de ser rei só na folia e faça da sua Maria uma rainha todos os dias
E cante o samba na universidade
E verás que seu filho será príncipe de verdade
Aí então jamais tu voltarás ao barracão
No século XVI e XVII, a agroindústria açucareira já se encontrava estabelecida e motivo de novas invasões pelas potências européias. Claro a mão-de-obra continuava a mesma, ou seja, escrava. João Antônio Andreoni (André João Antonil – jesuíta – através do livro “Cultura e Opulência do Brasil” – 1711) viveu no Brasil de 1681 a 1716 quando veio a falecer em Salvador. Em sua obra relata as relações político-econômico-sociais do Brasil colonial assim se referia:
“Os escravos são as mãos e os pés do senhor de engenho, porque sem eles no Brasil não é possível fazer, conservar e aumentar fazenda, nem ter engenho corrente”.
Mais adiante, continua:
“No Brasil costumam dizer que para o escravo são necessários três PPP, a saber: Pau, Pão e Pano. Pau, para os castigos; pão para a alimentação e Pano, para cobrir suas vergonhas”.
Tendo sido o principal centro da produção de açúcar, Pernambuco foi motivo de invasões e ambição do controle estrangeiro. No caso holandês (João Maurício de Nassau) dominou o nordeste de 1630 a 1654, deixando sua cultura nos melhoramentos da região e foi motivo de enredo da Escola de Samba Império Serrano que assim cantava
BRASIL HOLANDÊS
HOMENAGEM A MAURICIO DE NASSAU
(Mano Décio, Abílio Martins e Chocolate)
Lá, lá, rá, lá, rá, rá, rá
Pernambuco teve a glória
Divulgando na história
Do Brasil colonial
O governo altaneiro
Para o solo brasileiro
Pernambuco teve a glória
Divulgando na história
Do Brasil colonial
O governo altaneiro
Para o solo brasileiro
Culto, sereno e jovial
Deu assistência social
De João Maurício de Nassau
O progresso foi marcado
Deu assistência social
De João Maurício de Nassau
O progresso foi marcado
E por ele foi deixado
Na expansão comercial
Como governador
Conseguiu incrementar
A produção nacional
Foi Maurício de Nassau
Que desenvolveu o Brasil
Na indústria açucareira
E o transporte da nossa madeira
João Maurício de Nassau
Ao grande Brasil colonia
Nas lutas pela reconquista do território dominado pelos holandeses, não só portugueses (branco) tiveram participação. Negros, amarelos (índios), mulatos, mamelucos, cafusos, todos se envolveram nas lutas. A fuga de escravos devemos entender como ato natural. No entanto, é nesse momento que o desejo de liberdade aumenta. A canção a seguir apresenta as origens e caminhada desse povo que muito contribuiu para nossa formação. Vejamos:
AO POVO EM FORMA DE ARTE - QUILOMBO
Composição : Wilson Moreira - Nei Lopes
Quilombo pesquisou suas raízes
E os momentos mais felizes
De uma raça singular
E veio pra mostrar essa pesquisa
Na ocasião precisa
Em forma de arte popular
E os momentos mais felizes
De uma raça singular
E veio pra mostrar essa pesquisa
Na ocasião precisa
Em forma de arte popular
Há mais de quarenta mil anos atrás
A arte negra já resplandecia
Mais tarde a Etiópia milenar
Sua cultura até o Egito estendia
Daí o legendário mundo grego
A todo negro de "etiope" chamou
Depois vieram reinos suntuosos
De nível cultural superior
Que hoje são lembranças de um passado
Que a força da ambição exterminou
A arte negra já resplandecia
Mais tarde a Etiópia milenar
Sua cultura até o Egito estendia
Daí o legendário mundo grego
A todo negro de "etiope" chamou
Depois vieram reinos suntuosos
De nível cultural superior
Que hoje são lembranças de um passado
Que a força da ambição exterminou
Em toda a cultura nacional
Na arte e até mesmo na ciência
O modo africano de viver
Exerceu grande influência
E o negro brasileiro
Apesar de tempos infelizes
Lutou, viveu, morreu e se integrou
Sem abandonar suas raízes
Por isso o Quilombo desfila
Devolvendo em seu estandarte
A história de suas origens
Ao povo em forma de arte
Na arte e até mesmo na ciência
O modo africano de viver
Exerceu grande influência
E o negro brasileiro
Apesar de tempos infelizes
Lutou, viveu, morreu e se integrou
Sem abandonar suas raízes
Por isso o Quilombo desfila
Devolvendo em seu estandarte
A história de suas origens
Ao povo em forma de arte
QUILOMBO DOS PALMARES
Noel Rosa de Oliveira e Anescar Rodrigues
Noel Rosa de Oliveira e Anescar Rodrigues
No tempo em que o Brasil ainda era
Um simples país colonial,
Pernambuco foi palco da história
Que apresentamos neste carnaval.
Com a invasão dos holandeses
Os escravos fugiram da opressão
E do julgo dos portugueses.
Esses revoltosos
Ansiosos pela liberdade
Nos arraiais dos Palmares
Buscavam a tranqüilidade.
Ô-ô-ô-ô-ô-ô
Ô-ô, ô-ô, ô-ô.
Surgiu nessa história um protetor.
Um simples país colonial,
Pernambuco foi palco da história
Que apresentamos neste carnaval.
Com a invasão dos holandeses
Os escravos fugiram da opressão
E do julgo dos portugueses.
Esses revoltosos
Ansiosos pela liberdade
Nos arraiais dos Palmares
Buscavam a tranqüilidade.
Ô-ô-ô-ô-ô-ô
Ô-ô, ô-ô, ô-ô.
Surgiu nessa história um protetor.
Zumbi, o divino imperador,
Resistiu com seus guerreiros em sua tróia,
Muitos anos, ao furor dos opressores,
Ao qual os negros refugiados
Rendiam respeito e louvor.
Quarenta e oito anos depois
De luta e glória,
Terminou o conflito dos Palmares,
E lá no alto da serra,
Contemplando a sua terra,
Viu em chamas a sua tróia,
E num lance impressionante
Zumbi no seu orgulho se precipitou
Lá do alto da Serra do Gigante.
Meu maracatu
É da coroa imperial.
A economia colonial que até então de encontrava na região litorânea, se transfere no início do século XVIII para oeste ficando conhecida como Região das Gerais, por ter sido encontrado o metal precioso, produto que os portugueses sempre almejou. Houve mudança na sociedade, sim. O centro econômico passou a girar em torno do ouro e pedras preciosas e portanto, Portugal passou a exercer maior controle. Surge uma classe média ainda que flutuante, visto que o interesse maior se encontrava na produção do ouro, não se desperdiçando tempo em produzir alimentos. Apesar de a grande parte da riqueza seguir para Portugal, a região também se beneficiou, como exemplo temos as obras do Alejadinho no circuito histórico de Mias Gerais e assim foi cantada:
VIDA E OBRA DE ALEIJADINHO
Juca, Duduca e Bala
Foi genial,
Realizou
Maravilhas sem igual
E de real valor,
Incomparável na escultura nacional,
Empolgando o nosso Brasil colonial.
Ô-ô-ô-ô-ô-ô-ô-ô-ô-ô-ô
Antônio Francisco Lisboa,
Aleijadinho,
O imortal,
Ultrapassou a sua dor
Com a arte escultural.
Foi o marco inicial da escultura nacional
Projetando o Brasil
No conceito mundial.
Este grande brasileiro,
De rude formação,
Legou ao Brasil e ao mundo inteiro
O barroco brasileiro,
Nas cidades de Congonhas, Vila Rica, Sabará
E outras mais.
Lá-lá-lá-lá, lá-lá-lá-lá, lá-lá-lá
Revivemos a época
Deste filho de Minas Gerais
Realizou
Maravilhas sem igual
E de real valor,
Incomparável na escultura nacional,
Empolgando o nosso Brasil colonial.
Ô-ô-ô-ô-ô-ô-ô-ô-ô-ô-ô
Antônio Francisco Lisboa,
Aleijadinho,
O imortal,
Ultrapassou a sua dor
Com a arte escultural.
Foi o marco inicial da escultura nacional
Projetando o Brasil
No conceito mundial.
Este grande brasileiro,
De rude formação,
Legou ao Brasil e ao mundo inteiro
O barroco brasileiro,
Nas cidades de Congonhas, Vila Rica, Sabará
E outras mais.
Lá-lá-lá-lá, lá-lá-lá-lá, lá-lá-lá
Revivemos a época
Deste filho de Minas Gerais
A situação da mulher filha do senhor de engenho era muito difícil. Ela era preparada para casar mal aprendendo o que se pode chamar de prendas domésticas. Desde cedo recebia para cuidá-la uma negra que lhe servia de ama de leite (a negra era engravidada ao mesmo tempo em que a mulher do senhor – sinhá – por ser considerada e ter o leite mais forte ou, mais tarde, para que a sinhá não viesse a ter os seios flácidos), e, ao longo da vida da sinhazinha (acompanhante), ser sua mucama. A sinhazinha na idade de 13, 14 anos era oferecida ao filho do senhor de outro engenho (normalmente por interesses econômicos) em casamento. Como os dois pouco sabia da vida sexual, a sua lua de mel transformava-se em um estupro.
TRECHO DA PEÇA ESCUTA ZÉ Texto e roteiro de Marilena Ansaldi) Não sei por que sou negra. Não sei por que, você é branco. Nem você, aposto! Mas, dessa diferença e da nossa ignorância – Nascem mais desgraças que felicidade. Há todo um desequilíbrio Em si mesmo, nascido dessas raízes. Para seu bem estar, Fui trazida, séculos atrás, pro seu país. Para sua maior riqueza, Meu estado de escravidão declarada Passou a liberdade sem qualquer Infra-instrutora Que me deixasse entrever Suas boas intenções ou sentimento humanitário. . | Para sua satisfação, Ponho sua mesa e sou posta em sua cama Para seu sossego, Sou mantida num baixo nível educacional, Em conseqüência do econômico, E assim vai, num eterno vice-versa. Para sua pesquisa, Sou vista como elemento novo, Capaz de te possibilitar o reencontro da natureza perdida, De desatar-te as amarras que você construiu. Para sua tranqüilidade espiritual, Sou sempre tratada com a benevolência Que veste os superiores. (Trecho da fala de Zenaide na peça “Escuta Zé” |
Abaixo podemos cantar o Samba Enredo XICA DA SILVA composto por Noel rosa de Oliveira e Anescarzinho para o Salgueiro em 1963 que traduz a riqueza da Região das Minas Gerais.
XICA DA SILVA
Noel Rosa de Oliveira e Anescarzinho
Noel Rosa de Oliveira e Anescarzinho
Apesar
De não possuir grande beleza
Xica da Silva
Surgiu no seio
Da mais alta nobreza.
O contratador
João Fernandes de Oliveira
A comprou
Para ser a sua companheira.
E a mulata que era escrava
Sentiu forte transformação,
Trocando o gemido da senzala
Pela fidalguia do salão.
Com a influência e o poder do seu amor,
Que superou
A barreira da cor,
Francisca da Silva
Do cativeiro zombou ôôôôô
ôôô, ôô, ôô.
No Arraial do Tijuco,
Lá no Estado de Minas,
Hoje lendária cidade,
Seu lindo nome é Diamantina,
Onde nasceu a Xica que manda,
Deslumbrando a sociedade,
Com o orgulho e o capricho da mulata,
Importante, majestosa e invejada.
Para que a vida lhe tornasse mais bela,
João Fernandes de Oliveira
Mandou construir
Um vasto lago e uma belíssima galera
E uma riquíssima liteira
Para conduzi-la
Quando ela ia assistir
À missa na capela
De não possuir grande beleza
Xica da Silva
Surgiu no seio
Da mais alta nobreza.
O contratador
João Fernandes de Oliveira
A comprou
Para ser a sua companheira.
E a mulata que era escrava
Sentiu forte transformação,
Trocando o gemido da senzala
Pela fidalguia do salão.
Com a influência e o poder do seu amor,
Que superou
A barreira da cor,
Francisca da Silva
Do cativeiro zombou ôôôôô
ôôô, ôô, ôô.
No Arraial do Tijuco,
Lá no Estado de Minas,
Hoje lendária cidade,
Seu lindo nome é Diamantina,
Onde nasceu a Xica que manda,
Deslumbrando a sociedade,
Com o orgulho e o capricho da mulata,
Importante, majestosa e invejada.
Para que a vida lhe tornasse mais bela,
João Fernandes de Oliveira
Mandou construir
Um vasto lago e uma belíssima galera
E uma riquíssima liteira
Para conduzi-la
Quando ela ia assistir
À missa na capela
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