O GOLPE MILITAR
O que aparentemente o Brasil voltaria à normalidade democrática com as eleições de Eurico Gaspar Dutra e Juscelino Kubitschek de Oliveira, o novo presidente, Jânio da Silva Quadros após alguns meses de governo renuncia, levando o país a uma crise político institucional de gravidade incomensurável.
Assim é que a 31 de março de 1964, os militares unidos a alguns políticos promovem o Golpe de Estado que durará vinte anos.
Ao assumir o governo com a deposição de João Goulart, foi instalada uma Junta Militar e no dia 9 de abril desse mesmo ano, decretou o Ato Institucional no 1 (AI-1).
Nesse curto período de governo, Castelo Branco editou a o Ato Institucional no2, que extinguiu os partidos políticos,
Ainda nesse mesmo ano, foi editado o Ato Institucional no3 (AI-3), estabelecendo eleições indiretas para governadores e a nomeação dos prefeitos de capitais. Em 1967, Castelo Branco, baixou a Lei de Segurança Nacional e a Lei de Imprensa, aumentando o controle do governo sobre os meios de comunicação.
Em março de 1968 reprimindo um ato dos estudantes, mata Édson Luis de Lima Souto no restaurante universitário Calabouço. A partir desse momento os ânimos se acirram, levando os estudantes a promoverem a PASSEATA DOS CEM MIL sob o comando do presidente da UNE, Luis Travassos.
Mais uma vez entra em cena os plantonistas: escritores poetas, compositores, cronistas, a sociedade organizada (ABI,. OAB, CNBB, UNE, SINDICATOS etc. Dentre estes destaco aqui, Geraldo Vandré, Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gonzaguinha e tantos outros que direta ou veladamente contraíram para o restabelecimento da Democracia.
Chico Buarque é um compositor que dispensa comentários. Tenho certeza que há convenço. Em Apesar de Você, Chico critica o Golpe Militar, como também, o general Médici que tinha por ele, verdadeira ojeriza. Em sua composição, adverte aos militares que seu poder não é permanente, portanto, ao seu final, irá se arrepender de todas as injustiças cometidas.
APESAR DE VOCÊ Hoje você é quem manda Falou, tá falado Não tem discussão, não. A minha gente hoje anda Falando de lado e olhando pro chão Viu? Você que inventou esse Estado Inventou de inventar Toda escuridão Você que inventou o pecado Esqueceu-se de inventar o perdão (Coro) Apesar de você amanhã há de ser outro dia Eu pergunto a você onde vai se esconder Da enorme euforia? Como vai proibir Quando o galo insistir em cantar? | Água nova brotando E a gente se amando sem parar Quando chegar o momento Esse meu sofrimento Vou cobrar com juros. Juro! Todo esse amor reprimido, Esse grito contido, Esse samba no escuro Você que inventou a tristeza Ora tenha a fineza de "desinventar" Você vai pagar, e é dobrado, Cada lágrima rolada Nesse meu penar (Coro2) Apesar de você Amanhã há de ser outro dia. Ainda pago pra ver O jardim florescer Qual você não queria | Você vai se amargar Vendo o dia raiar Sem lhe pedir licença E eu avou morrer de rir E esse dia há de vir antes do que você pensa Apesar de você (Coro3) Apesar de você Amanhã há de ser outro dia Você vai ter que ver A manhã renascer E esbanjar poesia Como vai se explicar Vendo o céu clarear, de repente, Impunemente? Como vai abafar Nosso coro a cantar, Na sua frente. Apesar de você (Coro4) Apesar de você Amanhã há de ser outro dia. Você vai se dar mal, etc e tal, La, laiá, la laiá, la laiá?? |
Antes de tudo foi um revolucionário com suas composições. Enxergava a sociedade através de suas canções levando suas mensagens de protestos como a que citamos abaixo em relação aos governos militares que se instalara no Brasil. Participou dos festivais dos anos 60/70 sempre criticando a repressão e as perseguições. Nos anos 80 do século XX, com o retorno dos militares à caserna, Gonzaguinha se dedicou a canções românticas sem deixar a sensibilidade pelo comportamento social.
E VAMOS À LUTA Gonzaguinha Eu acredito é na rapaziada Que segue em frente e segura o rojão Eu ponho fé é na Fe da moçada Que não foge da fera, e segura o leão Eu vou à luta com essa juventude Que não foge da raia a troco de nada Eu vou no dessa mocidade Que não ta na saudade e constrói A manhã desejada | Aquele que sabe que é negro O coro da gente E segura à batida da vida o ano inteiro Aquele que o sufoco de um jogo tão duro E apesar dos pesares ainda se orgulha de ser brasileiro Aquele que sai da batalha Entra no botequim, pede uma cerva gelada E agita na mesa uma batucada Aquele que manda o pagode e sacode a poeira suada da luta e faz a brincadeira pois o resto é besteira e nós estamos pelai |
A produção musical de Caetano Veloso como quase a totalidade dos jovens compositores dos anos 60 (final), 70 e 80, do século XX, tem como temáticao romantismo, desaguando nos anos 70 encontra a veia da resistência contra o controle do poder por aqueles que o usurpou em 1964. em Podres Poderes , critica a onda militar que se abateu sobre a América Latina e, em especial, sobre o Brasil.
PODRES PODERES Enquanto os homens exercem Seus podres poderes Motos e fuscas avançam Os sinais vermelhos E perdem os verdes Somos uns boçais... Queria querer gritar Setecentas mil vezes Como são lindos Como são lindos os burgueses E os japoneses Mas tudo é muito mais... Será que nunca faremos Senão confirmar A incompetência Da América católica Que sempre precisará De ridículos tiranos Será, será, que será? Que será, que será? Será que esta Minha estúpida retórica Terá que soar Terá que se ouvir Por mais zil anos... Enquanto os homens exercem Seus podres poderes Índios e padres e bichas Negros e mulheres E adolescentes Fazem o carnaval... | Queria querer cantar Afinado com eles Silenciar Ao Ser indecente Mas tudo é muito mau... Ou então cada paisano E cada capataz Com sua burrice fará Jorrar sangue demais Nos pantanais, nas cidades Caatingas e nos gerais Será que apenas Os hermetismos pascoais E os tons, os mil tons Seus sons e seus dons geniais Nos salvam, nos salvarão Dessas trevas e nada mais... Enquanto os homens exercem Seus podres poderes Morrer e matar de fome De raiva e de sede São tantas vezes Gestos naturais... Eu quero aproximar O meu cantar vagabundo Daqueles que velam Pela alegria do mundo Indo e mais fundo Tins e bens e tais... Será que nunca faremos Senão confirmar Na incompetência Da América católica Que sempre precisará De ridículos tiranos | Será, será, que será? Que será, que será? Será que essa Minha estúpida retórica Terá que soar Terá que se ouvir Por mais zil anos... Ou então cada paisano E cada capataz Com sua burrice fará Jorrar sangue demais Nos pantanais, nas cidades Caatingas e nos gerais... Será que apenas Os hermetismos pascoais E os tons, os mil tons Seus sons e seus dons geniais Nos salvam, nos salvarão Dessas trevas e nada mais... Enquanto os homens Exercem seus podres poderes Morrer e matar de fome De raiva e de sede São tantas vezes Gestos naturais Eu quero aproximar O meu cantar vagabundo Daqueles que velam Pela alegria do mundo... Indo mais fundo Tins e bens e tais! Indo mais fundo Tins e bens e tais! Indo mais fundo Tins e bens e tais! |
Apesar de ter sido escrita durante a Segunda Guerra Mundial e a Ditadura de Vargas, a poesia de Drummond é uma atual representação do brasileiro que viveu nos anos da ditadura militar mais recente, resistindo e seguindo em frente mesmo quando os governantes militares atropelam a caminhada da democracia e das liberdades.
JOSÉ Carlos Drummond de Andrade E agora, José? A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou, e agora, José? e agora, você? você que é sem nome, que zomba dos outros, você que faz versos, que ama protesta, e agora, José? Está sem mulher, está sem discurso, está sem carinho, já não pode beber, já não pode fumar, cuspir já não pode, a noite esfriou, o dia não veio, o bonde não veio | o riso não veio, não veio a utopia e tudo acabou e tudo fugiu e tudo mofou, e agora, José? tudo acabou e tudo fugiu e tudo mofou, e agora, José? E agora, José? Sua doce palavra, seu instante de febre, sua gula e jejum, sua biblioteca, sua lavra de ouro, seu terno de vidro, sua incoerência, seu ódio - e agora? Com a chave na mão quer abrir a porta, não existe porta; quer morrer no mar, | mas o mar secou; quer ir para Minas, Minas não há mais. José, e agora? Se você gritasse, se você gemesse, se você tocasse a valsa vienense, se você dormisse, se você cansasse, se você morresse… Mas você não morre, você é duro, José! Sozinho no escuro qual bicho-do-mato, sem teogonia, sem parede nua para se encostar, sem cavalo preto que fuja a galope, você marcha, José! José, pra onde? |
A composição abaixo vem do tempo em que a opressão militar controla a sociedade em todos os sentidos de sua vida. Caetano Veloso não ficou ausente dos protestos a conjuntura instalada, e assim foi perseguido pela censura, preso e exilado juntamente com Gilberto Gil. A letra da música Alegria, Alegria é uma crítica ao governo, como também, a alienação do jovem que devido à censura adotavam conceitos culturais alienígenas, principalmente dos Estados Unidos, introduzidos no Brasil através da mídia.
Alegria, Alegria Caminhando contra o vento Sem lenço e sem documento No sol de quase dezembro Eu vou... O sol se reparte Espaçonaves Em cardinales bonitas Eu vou... Em caras de presidentes Em grandes beijos de amor Em dentes, pernas, bandeiras Bomba e Brigitte Bardot... | O sol nas bancas de revista Me enche de alegria e preguiça Quem lê tanta notícia Eu vou... Por entre fotos e nomes Os olhos cheios de cores O peito cheio de amores vãos Eu vou Por que não, por que não... Ela pensa E Sem lenço e sem documento, Eu vou... Eu tomo uma coca-cola Ela pensa E Eu vou... | Por entre fotos e nomes Sem livros e sem fuzil Sem fome, sem telefone No coração do Brasil... Ela nem sabe até pensei Em cantar na televisão O sol é tão bonito Eu vou... Sem lenço, sem documento Nada no bolso ou nas mãos Eu quero seguir vivendo, amor Eu vou... Por que não, por que não... Por que não, por que não... Por que não, por que não... Por que não, por que não... |
A ditadura militar marcou o povo brasileiro profundamente no que tange sua repressão. Esse período de chumbo como ficou denominado permitiu que o jovem tivesse condições de abrir seus caminhos lutando contra as adversidades.
Aprenderam, por exemplo, a não aguardar que os políticos de plantão fossem os responsáveis em colocar o Pão em sua Mesa. A luta pela liberdade é a luta diária. Entenderam que não se mendiga liberdade. Para se ter liberdade se na luta do dia-a-dia.
Essa é a grande mensagem de Geraldo Vandré em Pra Não Dizer Que Não Falei Flores. Aproveite, cantem com ele:
PRA NÃO DIZE QUE NÃO FALEI DAS FLORES Geraldo Vandré Caminhando e cantando E seguindo a canção Somos todos iguais Braços dados ou não Nas escolas, nas ruas Campos, construções Caminhando e cantando E seguindo a canção... Vem, vamos embora Que esperar não é saber Quem sabe faz a hora Não espera acontecer... Pelos campos há fome Em grandes plantações Pelas marchando | Ainda fazem da flor Seu mais lindo refrão E acreditam nas flores Vencendo o canhão Vem, vamos embora Que esperar não é saber Quem sabe faz a hora Não espera acontecer Há soldados armados Amados ou não Quase todos perdidos De armas na mão Nos quartéis lhes ensinam Uma antiga lição De morrer pela Pátria E viver sem razão... Vem, vamos embora Que esperar não é saber Quem sabe faz a hora Não espera acontecer | Nas escolas, nas ruas Campos, construções Somos todos soldados Armados ou não Caminhando e cantando E seguindo a canção Somos todos iguais Braços dados ou não... Os amores na mente As flores no chão A certeza na frente A história na mão Caminhando e cantando E seguindo a canção Aprendendo e ensinando Uma nova lição... Vem, vamos embora Que esperar não é saber Quem sabe faz a hora Não espera acontecer |
A mistura das etnias, a evolução de nosso idioma que partindo do grego chega até nós através do português que se mistura com nosso indígena e com os negros africanos contribuindo com seu falar dolente, romantizado, para, mais tarde, se amalgamar aos idiomas dos povos que imigraram para nossa terra. Desse caldeamento, o melhor exemplo, é o religioso que Martinho da Vila nos brinda.
A trajetória de Solano Trindade é marcada pela defesa dos direitos das camadas menos favorecidas. Como exemplo foi escolhida a poesia Trem Sujo da Leopoldina.
TREM SUJO DA LEOPOLDINA Solano Trindade Trem sujo da Leopoldina correndo, correndo parece dizer tem gente com fome tem gente com fome tem gente com fome Estação de Caxias de novo a correr de novo a dizer tem gente com fome tem gente com fome tem gente com fome Vigário Geral Lucas Cordovil Brás de Pina Penha Circular Olaria Ramos Bom Sucesso Carlos Chagas Triagem, Mauá | trem sujo da Leopoldina correndo, correndo parece dizer tem gente com fome tem gente com fome tem gente com fome Quantas caras tristes querendo chegar em algum destino em algum lugar Trem sujo da Leopoldina correndo, correndo parece dizer tem gente com fome tem gente com fome tem gente com fome Só nas estações quando vai parando lentamente começa a dizer se tem gente com fome dá de comer se tem gente com fome dá de comer se tem gente com fome dá de comer Mas o freio de ar todo autoritário |
A Aquarela do Brasil de Silas de Oliveira é um verdadeiro passeio pelas belezas do Brasil. Sua caravana percorre os pontos culturais de Norte a Sul, de Leste a Oeste. Fala de seu povo, do sincretismo religioso enaltecendo o cenário maravilhoso que é nosso país. Cantemos:
AQUARELA DO BRASIL(Silas De Oliveira)Vejam esta maravilha de cenário É um episódio relicário Que o artista num sonho genial Escolheu pra este carnaval E o asfalto como passarela Será a tela do Brasil em forma de aquarela Passeando pelas cercanias do Amazonas Conheci vastos seringais No Pará a ilha de Marajó E a velha cabana do Timbó. Caminhando ainda um pouco mais Deparei com lindos coqueirais Estava no Ceará, terra de Irapuã De Iracema e Tupã. Fiquei radiante de alegria Quando cheguei na Bahia | Bahia de Castro Alves,do acarajé. Das noites de magia do candomblé Depois de atravessar as matas do Ipu Assisti A Brasília tem o seu destaque Na arte,na Beleza e arquitetura Feitiço de garoa pela serra São Paulo engrandece a nossa terra Do leste por todo centro-oeste Tudo é belo e tem lindo matiz O Rio do samba e das batucadas Dos malandros e mulatas De requebros febris Brasil, Essas nossas verdes matas Cachoeiras e cascatas De colorido sutil E este lindo céu azul de anil Emolduram em aquarela o meu Brasil |
O poema de João Cabral de Mello Neto, Morte e vida Severina, contido em seu livro Poesias Completas em forma de narrativa, representa o sofrimento do retirante nordestino e sua luta por um pedaço de terra que se encontra em mãos do latifundiário.
Ainda jovem Chico Buarque de Holanda musicou um trecho que apresentamos a seguir:
O RETIRANTE EXPLICA AO LEITOR QUEM É E A QUE VAI — O meu nome é Severino, como não tenho outro de pia. Como há muitos Severinos, que é santo de romaria, deram então de me chamar Severino de Maria como há muitos Severinos com mães chamadas Maria, fiquei sendo o da Maria do finado Zacarias. Mais isso ainda diz pouco: há muitos na freguesia, por causa de um coronel que se chamou Zacarias e que foi o mais antigo senhor desta sesmaria. Como então dizer quem falo ora a Vossas Senhorias? | Vejamos: é o Severino da Maria do Zacarias, lá da serra da Costela, limites da Paraíba. Mas isso ainda diz pouco: se ao menos mais cinco havia com nome de Severino filhos de tantas Marias mulheres de outros tantos, já finados, Zacarias, vivendo na mesma serra magra e ossuda em que eu vivia. Somos muitos Severinos iguais em tudo na vida: na mesma cabeça grande que a custo é que se equilibra, no mesmo ventre crescido sobre as mesmas pernas finas e iguais também porque o sangue, que usamos tem pouca tinta. E se somos Severinos iguais em tudo na vida, morremos de morte igual, mesma morte severina: | que é a morte de que se morre de velhice antes dos trinta, de emboscada antes dos vinte de fome um pouco por dia (de fraqueza e de doença é que a morte severina ataca em qualquer idade, e até gente não nascida). Somos muitos Severinos iguais em tudo e na sina: a de abrandar estas pedras suando-se muito em cima, a de tentar despertar terra sempre mais extinta, a de querer arrancar alguns roçado da cinza. Mas, para que me conheçam melhor Vossas Senhorias e melhor possam seguir a história de minha vida, passo a ser o Severino que em vossa presença emigra. |
Morte e vida Severina Esta cova em que estás, com palmos medida É a conta menor que tiraste em vida É de bom tamanho, nem largo, nem fundo É a parte que te cabe deste latifúndio Não é cova grande, é cova medida É a terra que querias ver dividida É uma cova grande pra teu pouco defunto Mas estarás mais ancho que estavas no mundo | É uma cova grande pra teu defunto parco Porém mais que no mundo, te sentirás largo É uma cova grande pra tua carne pouca Mas a terra dada nao se abre a boca É a conta menor que tiraste em vida É a parte que te cabe deste latifúndio (É a terra que querias ver dividida) Estarás mais ancho que estavas no mundo Mas a terra dada nao se abre a boca |
Gonzagão em sua composição “O Último Pau de Arara”, retrata os percalços do retirante fugindo da seca do Nordeste. Era um tempo de êxodo em direção à cidade grande (década de 40 do século XX). O êxodo vem a ter continuidade nos anos 50/60 com o advento do governo de Juscelino Kubtschek e sua política de cinqüenta anos em cinco com a criação de Brasília.
último Pau de Arara A vida aqui só é ruim Quando não chove no chão Mas se chover dá de tudo Fartura tem de montão Tomara que chova logo Tomara meu Deus tomara Só deixo o meu cariri No último pau-de-arara (bis) | Enquanto a minha vaquinha Tiver o couro e o osso E puder com o chocalho Pendurado no pescoço Eu vou ficando por aqui Que deus do céu me ajude Quem sai da terra natal Em outros cantos não para Só deixo o meu cariri No último pau-de-arara (bis |
Gilberto Gil foi ministro da cultura no segundo governo de Luis Inácio Lula da Silva. Compositor, cantor, musicista, instrumentista compõe “Procissão” criticando a religiosidade do brasileiro e seu credo nos políticos que, através de promessas usam o povo para se perpetuar no poder. Acompanhem:
Procissão Olha lá Vai passando A procissão Se arrastando Que nem cobra Pelo chão As pessoas Que nela vão passando Acreditam nas coisas Lá do céu As mulheres cantando Tiram versos Os homens escutando Tiram o chapéu | O que Jesus prometeu E Jesus prometeu Coisa melhor Prá quem vive Nesse mundo sem amor Só depois de entregar O corpo ao chão Só depois de morrer Neste sertão Eu também Tô do lado de Jesus Só que acho que ele Se esqueceu De dizer que na Terra A gente tem De arranjar um jeitinho Pra viver | Eles vivem penando Aqui na Terra Esperando Muita gente se arvora A ser Deus E promete tanta coisa Pro sertão Que vai dar um vestido Pra Maria E promete um roçado Pro João Entra ano, sai ano E nada vem Meu sertão continua Ao Deus dará Mas se existe Jesus No firmamento Cá na Terra Isso tem que se acabar |
Todos nós já escrevemos um poema, um acróstico, uma frase sobre a Mulher Brasileira e essa capacidade de recuperação, de luta, de consenso, de vanguarda. Martinho da Vila por várias vezes já a homenageou. Não seria nesse trabalho que ela ficaria de fora. Saudemo-la:
CIDADÃ BRASILEIRA Mulher brasileira Que vai no mercado E pechincha na feira Mulher brasileira, mulher brasileira A bem sucedida, E a que está mal de vida Sem eira nem beira Mulher brasileira, mulher brasileira Mulher brasileira Cidadã brasileira | Ela é delegada Ela é deputada Prefeita e juíza Uma boa mulher Com um grande ideal É o que a gente precisa Sempre foi retaguarda Mas vai pra vanguarda De modo viril E é a esperança No futuro do Brasil Fiz amor com ternura Com uma doçura De fêmea guerreira Pra você fiz um samba Cidadã brasileira |
Martinho da Vila narra sua caminhada durante os anos que fazia sua graduação em direito. O Pequeno Burguês critica a sociedade onde só uma pequena parte da população tinha acesso formação superior nas universidades públicas, enquanto as camadas mais carentes disputavam as vagas em instituições privadas sem condições financeiras.
PEQUENO BURGUÊS Felicidade! Passei no vestibular Mas a faculdade É particular Particular! Ela é particular Particular! Ela é particular... Livros tão caros Tanta taxa prá pagar Meu dinheiro muito raro Alguém teve que emprestar O meu dinheiro Alguém teve que emprestar... O meu dinheiro Alguém teve que emprestar | Morei no subúrbio Andei de trem atrasado Do trabalho ia prá aula Sem jantar e bem cansado Mas lá em casa À meia-noite Tinha sempre a me esperar Um punhado de problemas E criança prá criar... Para criar! Só criança prá criar Para criar! Só criança prá criar... Mas felizmente Eu consegui me formar Mas da minha formatura Não cheguei participar Faltou dinheiro prá beca E também pro meu anel | vem o diretor careca Entregou o meu papel... O meu papel! Meu canudo de papel O meu papel! Meu canudo de papel... E depois de tantos anos Só decepções, desenganos Dizem que sou um burguês Muito privilegiado Mas burgueses são vocês Eu não passo De um pobre coitado E quem quiser ser como eu Vai ter é que penar um bocado Um bom bocado! Vai penar um bom bocado Um bom bocado! Vai penar um bom bocado Um bom bocado! |
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