terça-feira, 5 de abril de 2011

O GOLPE MILITAR


O GOLPE MILITAR
O que aparentemente o Brasil voltaria à normalidade democrática com as eleições de Eurico Gaspar Dutra e Juscelino Kubitschek de Oliveira, o novo presidente, Jânio da Silva Quadros após alguns meses de governo renuncia, levando o país a uma crise político institucional de gravidade incomensurável.
Assim é que a 31 de março de 1964, os militares unidos a alguns políticos promovem o Golpe de Estado que durará vinte anos.




Ao assumir o governo com a deposição de João Goulart, foi instalada uma Junta Militar e no dia 9 de abril desse mesmo ano, decretou o Ato Institucional no 1 (AI-1).
Nesse curto período de governo, Castelo Branco editou a o Ato Institucional no2, que extinguiu os partidos políticos,
Ainda nesse mesmo ano, foi editado o Ato Institucional no3 (AI-3), estabelecendo eleições indiretas para governadores e a nomeação dos prefeitos de capitais. Em 1967, Castelo Branco, baixou a Lei de Segurança Nacional e a Lei de Imprensa, aumentando o controle do governo sobre os meios de comunicação.
Em março de 1968 reprimindo um ato dos estudantes, mata Édson Luis de Lima Souto no restaurante universitário Calabouço. A partir desse momento os ânimos se acirram, levando os estudantes a promoverem a PASSEATA DOS CEM MIL sob o comando do presidente da UNE, Luis Travassos.
Mais uma vez entra em cena os plantonistas: escritores poetas, compositores, cronistas, a sociedade organizada (ABI,. OAB, CNBB, UNE, SINDICATOS etc. Dentre estes destaco aqui, Geraldo Vandré, Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gonzaguinha e tantos outros que direta ou veladamente contraíram para o restabelecimento da Democracia.
Chico Buarque é um compositor que dispensa comentários. Tenho certeza que há convenço. Em Apesar de Você, Chico critica o Golpe Militar, como também, o general Médici que tinha por ele, verdadeira ojeriza. Em sua composição, adverte aos militares que seu poder não é permanente, portanto, ao seu final, irá se arrepender de todas as injustiças cometidas.

APESAR DE VOCÊ

Hoje você é quem manda
Falou, tá falado
Não tem discussão, não.
A minha gente hoje anda
Falando de lado e olhando pro chão
Viu?
Você que inventou esse Estado
Inventou de inventar
Toda escuridão
Você que inventou o pecado
Esqueceu-se de inventar o perdão
(Coro) Apesar de você
amanhã há de ser outro dia
Eu pergunto a você onde vai se esconder
Da enorme euforia?
Como vai proibir
Quando o galo insistir em cantar?


Água nova brotando
E a gente se amando sem parar
Quando chegar o momento
Esse meu sofrimento
Vou cobrar com juros. Juro!
Todo esse amor reprimido,
Esse grito contido,
Esse samba no escuro
Você que inventou a tristeza
Ora tenha a fineza
de "desinventar"
Você vai pagar, e é dobrado,
Cada lágrima rolada
Nesse meu penar
(Coro2) Apesar de você
Amanhã há de ser outro dia.
Ainda pago pra ver
O jardim florescer
Qual você não queria

Você vai se amargar
Vendo o dia raiar
Sem lhe pedir licença
E eu avou morrer de rir
E esse dia há de vir
antes do que você pensa
Apesar de você
(Coro3) Apesar de você
Amanhã há de ser outro dia
Você vai ter que ver
A manhã renascer
E esbanjar poesia
Como vai se explicar
Vendo o céu clarear, de repente,
Impunemente?
Como vai abafar
Nosso coro a cantar,
Na sua frente.
Apesar de você
(Coro4) Apesar de você
Amanhã há de ser outro dia.
Você vai se dar mal, etc e tal,
La, laiá, la laiá, la laiá??



Antes de tudo foi um revolucionário com suas composições. Enxergava a sociedade através de suas canções levando suas mensagens de protestos como a que citamos abaixo em relação aos governos militares que se instalara no Brasil. Participou dos festivais dos anos 60/70 sempre criticando a repressão e as perseguições. Nos anos 80 do século XX, com o retorno dos militares à caserna, Gonzaguinha se dedicou a canções românticas sem deixar a sensibilidade pelo comportamento social.




E VAMOS À LUTA
Gonzaguinha


Eu acredito é na rapaziada
Que segue em frente e segura o rojão
Eu ponho fé é na Fe da moçada
Que não foge da fera, e segura o leão
Eu vou à luta com essa juventude
Que não foge da raia a troco de nada
Eu vou no dessa mocidade
Que não ta na saudade e constrói
A manhã desejada



Aquele que sabe que é negro
O coro da gente
E segura à batida da vida o ano inteiro
Aquele que o sufoco de um jogo tão duro
E apesar dos pesares ainda se orgulha de ser brasileiro
Aquele que sai da batalha
Entra no botequim, pede uma cerva gelada
E agita na mesa uma batucada
Aquele que manda o pagode
e sacode a poeira suada da luta e faz a brincadeira
pois o resto é besteira
e nós estamos pelai

A produção musical de Caetano Veloso como quase a totalidade dos jovens compositores dos anos 60 (final), 70 e 80, do século XX, tem como temáticao romantismo, desaguando nos anos 70 encontra a veia da resistência contra o controle do poder por aqueles que o usurpou em 1964. em Podres Poderes, critica a onda militar que se abateu sobre a América Latina e, em especial, sobre o Brasil.

PODRES PODERES

Enquanto os homens exercem
Seus podres poderes
Motos e fuscas avançam
Os sinais vermelhos
E perdem os verdes
Somos uns boçais...
Queria querer gritar
Setecentas mil vezes
Como são lindos
Como são lindos os burgueses
E os japoneses
Mas tudo é muito mais...
Será que nunca faremos
Senão confirmar
A incompetência
Da América católica
Que sempre precisará
De ridículos tiranos
Será, será, que será?
Que será, que será?
Será que esta
Minha estúpida retórica
Terá que soar
Terá que se ouvir
Por mais zil anos...
Enquanto os homens exercem
Seus podres poderes
Índios e padres e bichas
Negros e mulheres
E adolescentes
Fazem o carnaval...

Queria querer cantar
Afinado com eles
Silenciar em respeito
Ao
seu transe num êxtase
Ser indecente
Mas tudo é muito mau...
Ou então cada paisano
E cada capataz
Com sua burrice fará
Jorrar sangue demais
Nos pantanais, nas cidades
Caatingas e nos gerais
Será que apenas
Os hermetismos pascoais
E os tons, os mil tons
Seus sons e seus dons geniais
Nos salvam, nos salvarão
Dessas trevas e nada mais...
Enquanto os homens exercem
Seus podres poderes
Morrer e matar de fome
De raiva e de sede
São tantas vezes
Gestos naturais...
Eu quero aproximar
O meu cantar vagabundo
Daqueles que velam
Pela alegria do mundo
Indo e mais fundo
Tins e bens e tais...
Será que nunca faremos
Senão confirmar
Na incompetência
Da América católica
Que sempre precisará
De ridículos tiranos
Será, será, que será?
Que será, que será?
Será que essa
Minha estúpida retórica
Terá que soar
Terá que se ouvir
Por mais zil anos...
Ou então cada paisano
E cada capataz
Com sua burrice fará
Jorrar sangue demais
Nos pantanais, nas cidades
Caatingas e nos gerais...
Será que apenas
Os hermetismos pascoais
E os tons, os mil tons
Seus sons e seus dons geniais
Nos salvam, nos salvarão
Dessas trevas e nada mais...
Enquanto os homens
Exercem seus podres poderes
Morrer e matar de fome
De raiva e de sede
São tantas vezes
Gestos naturais
Eu quero aproximar
O meu cantar vagabundo
Daqueles que velam
Pela alegria do mundo...
Indo mais fundo
Tins e bens e tais!
Indo mais fundo
Tins e bens e tais!
Indo mais fundo
Tins e bens e tais!


Apesar de ter sido escrita durante a Segunda Guerra Mundial e a Ditadura de Vargas, a poesia de Drummond é uma atual representação do brasileiro que viveu nos anos da ditadura militar mais recente, resistindo e seguindo em frente mesmo quando os governantes militares atropelam a caminhada da democracia e das liberdades.

JOSÉ
Carlos Drummond de Andrade

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama protesta,
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?
tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,

seu terno de vidro, sua incoerência,
seu ódio - e agora?
Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,

mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse…
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, pra onde?





A composição abaixo vem do tempo em que a opressão militar controla a sociedade em todos os sentidos de sua vida. Caetano Veloso não ficou ausente dos protestos a conjuntura instalada, e assim foi perseguido pela censura, preso e exilado juntamente com Gilberto Gil. A letra da música Alegria, Alegria é uma crítica ao governo, como também, a alienação do jovem que devido à censura adotavam conceitos culturais alienígenas, principalmente dos Estados Unidos, introduzidos no Brasil através da mídia.

Alegria, Alegria
Caminhando contra o vento
Sem lenço e sem documento
No sol de quase dezembro
Eu vou...
O sol se reparte em crimes
Espaçonaves
, guerrilhas
Em cardinales bonitas
Eu vou...
Em caras de presidentes
Em grandes beijos de amor
Em dentes, pernas, bandeiras
Bomba e Brigitte Bardot...

O sol nas bancas de revista
Me enche de alegria e preguiça
Quem lê tanta notícia
Eu vou...
Por entre fotos e nomes
Os olhos cheios de cores
O peito cheio de amores vãos
Eu vou
Por que não, por que não...
Ela pensa em casamento
E
eu nunca mais fui à escola
Sem lenço e sem documento,
Eu vou...
Eu tomo uma coca-cola
Ela pensa em casamento
E
uma canção me consola
Eu vou...

Por entre fotos e nomes
Sem livros e sem fuzil
Sem fome, sem telefone
No coração do Brasil...
Ela nem sabe até pensei
Em cantar na televisão
O sol é tão bonito
Eu vou...
Sem lenço, sem documento
Nada no bolso ou nas mãos
Eu quero seguir vivendo, amor
Eu vou...
Por que não, por que não...
Por que não, por que não...
Por que não, por que não...
Por que não, por que não...










A ditadura militar marcou o povo brasileiro profundamente no que tange sua repressão. Esse período de chumbo como ficou denominado permitiu que o jovem tivesse condições de abrir seus caminhos lutando contra as adversidades.
Aprenderam, por exemplo, a não aguardar que os políticos de plantão fossem os responsáveis em colocar o Pão em sua Mesa. A luta pela liberdade é a luta diária. Entenderam que não se mendiga liberdade. Para se ter liberdade se na luta do dia-a-dia.
Essa é a grande mensagem de Geraldo Vandré em Pra Não Dizer Que Não Falei Flores. Aproveite, cantem com ele:



PRA NÃO DIZE QUE NÃO FALEI DAS FLORES
Geraldo Vandré

Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Somos todos iguais
Braços dados ou não
Nas escolas, nas ruas
Campos, construções
Caminhando e cantando
E seguindo a canção...
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer...
Pelos campos há fome
Em grandes plantações
Pelas marchando



Ainda fazem da flor
Seu mais lindo refrão
E acreditam nas flores
Vencendo o canhão
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer
Há soldados armados
Amados ou não
Quase todos perdidos
De armas na mão
Nos quartéis lhes ensinam
Uma antiga lição
De morrer pela Pátria
E viver sem razão...
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer
Nas escolas, nas ruas
Campos, construções
Somos todos soldados
Armados ou não
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Somos todos iguais
Braços dados ou não...
Os amores na mente
As flores no chão
A certeza na frente
A história na mão
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Aprendendo e ensinando
Uma nova lição...
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer





A mistura das etnias, a evolução de nosso idioma que partindo do grego chega até nós através do português que se mistura com nosso indígena e com os negros africanos contribuindo com seu falar dolente, romantizado, para, mais tarde, se amalgamar aos idiomas dos povos que imigraram para nossa terra. Desse caldeamento, o melhor exemplo, é o religioso que Martinho da Vila nos brinda.

A trajetória de Solano Trindade é marcada pela defesa dos direitos das camadas menos favorecidas. Como exemplo foi escolhida a poesia Trem Sujo da Leopoldina.

















TREM SUJO DA LEOPOLDINA
Solano Trindade
Trem sujo da Leopoldina
correndo, correndo
parece dizer
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome

Estação de Caxias
de novo a correr
de novo a dizer
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome
Vigário Geral
Lucas
Cordovil
Brás de Pina
Penha Circular
Olaria
Ramos
Bom Sucesso
Carlos Chagas
Triagem, Mauá
trem sujo da Leopoldina
correndo, correndo
parece dizer
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome
Quantas caras tristes
querendo chegar
em algum destino
em algum lugar

Trem sujo da Leopoldina
correndo, correndo
parece dizer
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome
Só nas estações
quando vai parando
lentamente começa a dizer
se tem gente com fome
dá de comer
se tem gente com fome
dá de comer
se tem gente com fome
dá de comer
Mas o freio de ar
todo autoritário

A Aquarela do Brasil de Silas de Oliveira é um verdadeiro passeio pelas belezas do Brasil. Sua caravana percorre os pontos culturais de Norte a Sul, de Leste a Oeste. Fala de seu povo, do sincretismo religioso enaltecendo o cenário maravilhoso que é nosso país. Cantemos:


AQUARELA DO BRASIL

(Silas De Oliveira)

Vejam esta maravilha de cenário
É um episódio relicário
Que o artista num sonho genial
Escolheu pra este carnaval
E o asfalto como passarela
Será a tela do Brasil em forma de aquarela
Passeando pelas cercanias do Amazonas
Conheci vastos seringais
No Pará a ilha de Marajó
E a velha cabana do Timbó.
Caminhando ainda um pouco mais
Deparei com lindos coqueirais
Estava no Ceará, terra de Irapuã
De Iracema e Tupã.
Fiquei radiante de alegria
Quando cheguei na Bahia
Bahia de Castro Alves,do acarajé.
Das noites de magia do candomblé
Depois de atravessar as matas do Ipu
Assisti em Pernambuco
A
festa do frevo e do maracatu.
Brasília tem o seu destaque
Na arte,na Beleza e arquitetura
Feitiço de garoa pela serra
São Paulo engrandece a nossa terra
Do leste por todo centro-oeste
Tudo é belo e tem lindo matiz
O Rio do samba e das batucadas
Dos malandros e mulatas
De requebros febris
Brasil,
Essas nossas verdes matas
Cachoeiras e cascatas
De colorido sutil
E este lindo céu azul de anil
Emolduram em aquarela o meu Brasil






O poema de João Cabral de Mello Neto, Morte e vida Severina, contido em seu livro Poesias Completas em forma de narrativa, representa o sofrimento do retirante nordestino e sua luta por um pedaço de terra que se encontra em mãos do latifundiário.
Ainda jovem Chico Buarque de Holanda musicou um trecho que apresentamos a seguir:


O RETIRANTE EXPLICA AO LEITOR
QUEM É E A QUE VAI

— O meu nome é Severino,
como não tenho outro de pia.
Como há muitos Severinos,
que é santo de romaria,
deram então de me chamar
Severino de Maria
como há muitos Severinos
com mães chamadas Maria,
fiquei sendo o da Maria
do finado Zacarias.
Mais isso ainda diz pouco:
há muitos na freguesia,
por causa de um coronel
que se chamou Zacarias
e que foi o mais antigo
senhor desta sesmaria.
Como então dizer quem falo
ora a Vossas Senhorias?

Vejamos: é o Severino
da Maria do Zacarias,
lá da serra da Costela,
limites da Paraíba.
Mas isso ainda diz pouco:
se ao menos mais cinco havia
com nome de Severino
filhos de tantas Marias
mulheres de outros tantos,
já finados, Zacarias,
vivendo na mesma serra
magra e ossuda em que eu vivia.
Somos muitos Severinos
iguais em tudo na vida:
na mesma cabeça grande
que a custo é que se equilibra,
no mesmo ventre crescido
sobre as mesmas pernas finas
e iguais também porque o sangue,
que usamos tem pouca tinta.
E se somos Severinos
iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual,
mesma morte severina:
que é a morte de que se morre
de velhice antes dos trinta,
de emboscada antes dos vinte
de fome um pouco por dia
(de fraqueza e de doença
é que a morte severina
ataca em qualquer idade,
e até gente não nascida).
Somos muitos Severinos
iguais em tudo e na sina:
a de abrandar estas pedras
suando-se muito em cima,
a de tentar despertar
terra sempre mais extinta,
a de querer arrancar
alguns roçado da cinza.
Mas, para que me conheçam
melhor Vossas Senhorias
e melhor possam seguir
a história de minha vida,
passo a ser o Severino
que em vossa presença emigra.




Morte e vida Severina

Esta cova em que estás, com palmos medida
É a conta menor que tiraste em vida

É de bom tamanho, nem largo, nem fundo
É a parte que te cabe deste latifúndio

Não é cova grande, é cova medida
É a terra que querias ver dividida

É uma cova grande pra teu pouco defunto
Mas estarás mais ancho que estavas no mundo



É uma cova grande pra teu defunto parco
Porém mais que no mundo, te sentirás largo

É uma cova grande pra tua carne pouca
Mas a terra dada nao se abre a boca

É a conta menor que tiraste em vida

É a parte que te cabe deste latifúndio
(É a terra que querias ver dividida)

Estarás mais ancho que estavas no mundo
Mas a terra dada nao se abre a boca












Gonzagão em sua composição “O Último Pau de Arara”, retrata os percalços do retirante fugindo da seca do Nordeste. Era um tempo de êxodo em direção à cidade grande (década de 40 do século XX). O êxodo vem a ter continuidade nos anos 50/60 com o advento do governo de Juscelino Kubtschek e sua política de cinqüenta anos em cinco com a criação de Brasília.


último Pau de Arara
A vida aqui só é ruim
Quando não chove no chão
Mas se chover dá de tudo
Fartura tem de montão
Tomara que chova logo
Tomara meu Deus tomara
Só deixo o meu cariri
No último pau-de-arara (bis)



Enquanto a minha vaquinha
Tiver o couro e o osso
E puder com o chocalho
Pendurado no pescoço
Eu vou ficando por aqui
Que deus do céu me ajude
Quem sai da terra natal
Em outros cantos não para
Só deixo o meu cariri
No último pau-de-arara (bis

Gilberto Gil foi ministro da cultura no segundo governo de Luis Inácio Lula da Silva. Compositor, cantor, musicista, instrumentista compõe “Procissão” criticando a religiosidade do brasileiro e seu credo nos políticos que, através de promessas usam o povo para se perpetuar no poder. Acompanhem:


Procissão

Olha lá
Vai passando
A procissão
Se arrastando
Que nem cobra
Pelo chão
As pessoas
Que nela vão passando
Acreditam nas coisas
Lá do céu
As mulheres cantando
Tiram versos
Os homens escutando
Tiram o chapéu



O que Jesus prometeu
E Jesus prometeu
Coisa melhor
Prá quem vive
Nesse mundo sem amor
Só depois de entregar
O corpo ao chão
Só depois de morrer
Neste sertão
Eu também
Tô do lado de Jesus
Só que acho que ele
Se esqueceu
De dizer que na Terra
A gente tem
De arranjar um jeitinho
Pra viver

Eles vivem penando
Aqui na Terra
Esperando Muita gente se arvora
A ser Deus
E promete tanta coisa
Pro sertão
Que vai dar um vestido
Pra Maria
E promete um roçado
Pro João
Entra ano, sai ano
E nada vem
Meu sertão continua
Ao Deus dará
Mas se existe Jesus
No firmamento
Cá na Terra
Isso tem que se acabar


Todos nós já escrevemos um poema, um acróstico, uma frase sobre a Mulher Brasileira e essa capacidade de recuperação, de luta, de consenso, de vanguarda. Martinho da Vila por várias vezes já a homenageou. Não seria nesse trabalho que ela ficaria de fora. Saudemo-la:






CIDADÃ BRASILEIRA


Mulher brasileira
Que vai no mercado
E pechincha na feira
Mulher brasileira, mulher brasileira
A bem sucedida,
E a que está mal de vida
Sem eira nem beira
Mulher brasileira, mulher brasileira
Mulher brasileira
Cidadã brasileira

Ela é delegada
Ela é deputada
Prefeita e juíza
Uma boa mulher
Com um grande ideal
É o que a gente precisa
Sempre foi retaguarda
Mas vai pra vanguarda
De modo viril
E é a esperança
No futuro do Brasil
Fiz amor com ternura
Com uma doçura
De fêmea guerreira
Pra você fiz um samba
Cidadã brasileira


Martinho da Vila narra sua caminhada durante os anos que fazia sua graduação em direito. O Pequeno Burguês critica a sociedade onde só uma pequena parte da população tinha acesso formação superior nas universidades públicas, enquanto as camadas mais carentes disputavam as vagas em instituições privadas sem condições financeiras.

PEQUENO BURGUÊS

Felicidade!
Passei no vestibular
Mas a faculdade
É particular
Particular!
Ela é particular
Particular!
Ela é particular...
Livros tão caros
Tanta taxa prá pagar
Meu dinheiro muito raro
Alguém teve que emprestar
O meu dinheiro
Alguém teve que emprestar...
O meu dinheiro
Alguém teve que emprestar
Morei no subúrbio
Andei de trem atrasado
Do trabalho ia prá aula
Sem jantar e bem cansado
Mas lá em casa
À meia-noite
Tinha sempre a me esperar
Um punhado de problemas
E criança prá criar...
Para criar!
Só criança prá criar
Para criar!
Só criança prá criar...
Mas felizmente
Eu consegui me formar
Mas da minha formatura
Não cheguei participar
Faltou dinheiro prá beca
E também pro meu anel


vem o diretor careca
Entregou o meu papel...
O meu papel!
Meu canudo de papel
O meu papel!
Meu canudo de papel...
E depois de tantos anos
Só decepções, desenganos
Dizem que sou um burguês
Muito privilegiado
Mas burgueses são vocês
Eu não passo
De um pobre coitado
E quem quiser ser como eu
Vai ter é que penar um bocado
Um bom bocado!
Vai penar um bom bocado
Um bom bocado!
Vai penar um bom bocado
Um bom bocado!

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