sexta-feira, 20 de maio de 2011

A MULHER NO MUNDO DOS HOMENS

A MULHER NO MUNDO DOS HOMENS


“Do rio que tudo arrasta
Se diz que é violento, mas
a ninguém diz violentas as
margens que o comprime”.

A Igreja Católica ao referir-se a origem do ser humano, recorre ao pressuposto de que a mulher surgiu de uma costela do homem, portanto, coloca-a no seu papel de submissão.

“Sou morena
Já nasci pra ser escrava do sistema
Sou morena
Pouco a pouco porém rebentei minhas algemas
Sou de paz mas sou guerreira
Devagar chego lá derrubando fronteiras
To de tanga mesmo assim já tô dando meu grito do Ipiranga
Quero tudo o que perdi
Eu quero escolher o que não escolhi
Eu sou brasileira e to aí”

                        Rainha Morena
                        Paulo César Pinheiro e Maurício Tapajós

O conceito de que a “mulher é objeto de cama e mesa” transcende ao mundo moderno. Moisés, após verificar que mulher não era fértil durante a menstruação e nos dez dias subseqüentes e, desejando aumentar a população da tribo Hebréia, criou uma lei proibindo de se manter relações sexuais durante este período.


“Estou mais atrevida
tõ cheia de vida
você não me provoca
nem quando me toca
agora eu tenho fome
de homem que seja feliz”

Atrevida
Ivan Lins


Se durante a Idade Média a mulher atuou em praticamente todas as profissões, a partir do Renascimento determinadas atividades vão gradativamente tornando-se domínio masculino, ao mesmo tempo que as Corporações de Ofício se fecham a participação feminina. É justamente durante esse período, quando o trabalho se valoriza como instrumento de transformação do mundo pelo homem, que o trabalho da mulher passa a ser depreciado. Alijada concretamente de determinadas profissões, tece-se também toda uma ideologia de desvalorização da mulher que trabalha.
A pergunta que se coloca é se, diante deste quadro, as mulheres deixaram de trabalhar. Tal não ocorreu, já que as necessidades materiais de sobrevivência sempre exigiram que o fizessem.

Lava a roupa todo dia, que agonia
Na quebrada da soleira, que chovia
Até sonhar de madrugada
Uma moça bem mancada
Uma mulher não pode vacilar

Luiz Melodia

Jean Jacques Rousseau, principal ideólogo da Revolução Francesa, fecha formalmente o acesso da mulher à participação pública. Para ele, o mundo masculino seria por natureza, o mundo externo e o feminino, o mundo interno. Segundo Rousseau, a mulher deveria ser educada e encontrar uma realização “natural” e colocar-se a serviço do homem, desde a infância até a fase adulta: “Toda educação da mulher deve ser relacionada ao homem. Agradá-los, ser-lhe útil, fazer-se amada e honrada por eles, educá-los quando jovens, cuidá-los quando adultos, aconselhá-los, consolá-los, torná-lhes a vida útil e a agradável – são esses os deveres das mulheres em todos os tempos e o que lhes deve ser ensinado desde a infância”.

“Ó mãe, me explica, me ensina
Me diz o que é feminina?
Não é no cabelo nem no dengo ou no olhar
É ser menina por todo o lugar
Ó mãe então me ilumina
Me diz como é que termina
Termina na hora de recomeçar”

Feminina
Joice

Jeanne Deroin, operária francesa autodidata, escreve em 1848 “Um Curso de Direito Social” para as mulheres no qual pretende apontar às próprias mulheres a passividade por elas assumida.
A mulher, ainda uma escrava, permanece em silêncio. (...) Subjugada pelo domínio masculino, ela nem sequer aspira a sua própria libertação; o homem é que deve libertá-la.

Às vezes passava fome ao meu lado
E achava bonito não ter o que comer
E quando me via contrariado
Ah meu filho o que há de fazer

Ataulfo Alves e Mario lago
Amélia
Por dois caminhos trilharam a submissão da mulher: Pelo seu silêncio e conformismo e pela ação machista, que como vimos, predominou desde sempre. As vozes que se levantaram foram escravizadas e massacradas.

“Todo dia ela faz tudo sempre igual
Me sacode as seis horas da manhã
Me sorri um sorriso pontual
E me beija com a boca de hortelã
Todo dia ela diz que pra eu me cuidar
E essas coisas que diz toda mulher.”

Cotidiano
Chico Buarque

Iniciado nos Estados Unidos na segunda metade do século XIX, a mulher adquiriu o direito de voto em 1920 e, daí por diante, a Inglaterra seguido de outros países da Europa incluíram em suas constituições o sufrágio feminino.
No Brasil a luta durou 40 anos. Iniciada por Bertha Lutz quando funda a “Liga pela Emancipação da Mulher”, o movimento conquistou sua primeira vitória no Rio Grande do Norte em 1927, tendo a mulher passado a ter direito de voto, seguido de outros Estados, até que em 1932, Getúlio Vargas, por Decreto-Lei, promulga o direito de sufrágio às mulheres.

“Mas depois
Nos cobra na cara
O amor mais perfeito
Da amante ideal
A casa arrumada, a comida na mesa
O botão da camisa, o chinelo e o jornal
Os filhos nos pedem mais tempo ...
Ser mulher é ser mãe”.

A partir da década de 1960, o feminismo incorpora outras frentes de luta – a desigualdade no exercício de direitos políticos, trabalhistas e civis, questiona também as raízes culturais dessas desigualdades. Denuncia desta forma, a mística do “eterno feminismo”, ou seja, a crença na inferioridade “natural” da mulher, calcada em fatores biológicos. Questiona a Idéia de que homens e mulheres estariam predeterminados
Por sua própria natureza, a cumprir papéis opostos na sociedade: Ao homem, o mundo externo; à mulher, por sua função procriadora, o mundo interno. Essa diferenciação de papéis na verdade mascara uma hirarquia, que delega ao homem a posição de mando.
Nesse sentido afirma Simone Beauvoir: “Não se nasce mulher, torna-se mulher”. (“masculino” e o “feminino” são criações culturais e, como tal, são comportamentos apreendidos através do processo de socialização que condiciona diferentemente os sexos para cumprirem funções sociais específicas e diversas. Aprendemos a ser homens e mulheres e a aceitar como “naturais” as relações de poder entre os sexos. A menina, assim aprende a ser doce, obediente, passiva, altruísta, dependente; enquanto o “menino”, aprende a ser agressivo, competitivo, ativo, independente. Como se tais qualidades fossem parte de sua própria “natureza”. Da mesma forma, a mulher seria emocional, sentimental, incapaz para as abstrações das ciências e da vida intelectual em geral, enquanto a natureza do homem, seria mais propícia à “racionalidade”.

“Maria, Maria
É um dom, uma certa magia
Uma força que nos alerta
Uma mulher que merece viver e amar
Como outra qualquer do Planeta”.

Maria, Maria
Milton Nascimento

O movimento feminista denuncia a manipulação do corpo da mulher e a violência que é submetida, tanto aquela que se atualiza na agressão física – espancamentos, estupros, assassinatos – quanto a que o coisifica enquanto objeto de consumo. Denuncia da mesma forma a violência simbólica que faz de seu sexo um objeto desvalorizado.

“Não quero viver por aí
Prisioneira de um quarto de hotel
Com um telefone ao alcance da mão
Uma linha direta com a solidão”.

Quarto de Hotel
Gonzaguinha


“E daí
Pouco importa
Ou se interessa ou não se interessa
É fim de conversa
Eu volta pra vida
Que deixei lá fora, na rua
Fui tua... e daí
É ima pena
Que a moça não seja
De cama e mesa
Um bicho uma presa
Que depois de usada
Se guarda ou se joga
Na lata do lixo”

Mulher e Daí
Gonzaguinha

O movimento feminista propõe, principalmente, que o exercício da sexualidade se desvincule da função biológica de reprodução, exigindo dessa forma o direito ao prazer sexual e a livre opção pela maternidade. A proposta não é a utilização do aborto como método contraceptivo, e sim, como último recurso ao qual as mulheres devem ter seu direito assegurado, no sentido de garantir que a maternidade seja o resultado de uma opção consciente e não de uma fatalidade biológica.

Não sei por que sou negra, não sei por que você é branco,
Nem você, aposto! Mas dessa diferença – e da nossa
Ignorância – nascem mais desgraças do que felicidade.
Há todo um desequilíbrio em si mesmo, nascido dessas raízes.
Para seu bem estar, fui trazida, séculos atrás,
Mão de obra para seu país. Para sua maior riqueza,
Meu estado de escravidão declarada passou a liberdade,
Sem qualquer infraestrutura que deixasse entrever
Suas boas intenções ou sentimento humanitário.
Para sua satisfação, ponho sua mesa e sou posta em sua cama.
Para seu sossego, sou mantida num baixo nível educacional,
Em conseqüência do econômico, e assim vai num eterno vice-versa.
Para então eu  sua pesquisa, sou vista como elemento novo,
Capaz de te possibilitar o reencontro da natureza perdida,
de desatar-te as amarras que você construiu.
Para sua tranqüilidade espiritual, sou sempre tratada com
a benevolência que veste os superiores.

Trecho da fala de Zenaide na peça “Escuta Zé”
Texto e roteiro de Marilena Ansaldi

Primeiro você me alucina
Me entorta a cabeça
E bota na boca
Um gosto amargo de fel
Depois vem chorando desculpas
Assim me pedindo
Querendo ganhar um bocado de mel
Não vê que então eu me rasgo
Engasgo, engulo, reflito
E estendo a mão
E a assim nossa vida é um rio secando
As pedras cortando
E eu vou perguntando: até quando?

Grito de Alerta
Gonzaguinha

Se a mulher passou pelo seu estágio de submissa. Ela também evoluiu para o estágio de dependente. No hiato, parecia que ela se perderia em suas conquista e busca da garantia dos espaços, da manutenção de sua personalidade, da sua faceirice, da sua elegância etc. Na realidade, a mulher após a conquista de sua independência econômica, passou ater o direito de escolher o seu “homem” e não aguardar ser escolhida. Deixou de ser passiva para atuar na sociedade de “igual para igual”. Essa é a mulher atual. A mulher que apesar de, lado a lado, disputar o mercado de trabalho com o homem, garante a procriação e a dinâmica da sociedade.

MULHERES... SERES FANTÁSTICOS

A mãe e o pai estavam assistindo televisão, quando a mãe disse: “Estou cansada e já é tarde. Vou-me deitar”.
Foi à cozinha fazer uns sandwiches para os almoços do dia seguinte na escola, passou uma água nas taças de pipoca, tirou carne do freezer para jantar do dia seguinte, confirmou se as caixas de cereais não estavam vazias, encheu o açucareiro, pôs tigelas e talheres na mesa e preparou a cafeteira do café para estar pronta para o dia seguinte.
Pôs ainda umas roupas na máquina de lavar, passou uma camisa a ferro e pregou um botão que estava caindo. Guardou umas peças do jogo que ficara em cima da mesa e pôs a agenda do telefone no lugar dela. Regou as plantas, despejou o lixo e pendurou uma toalha para secar.
Bocejou, espreguiçou-se e foi para o quarto.
Parou ainda na secretária e escreveu uma nota para o professor, pôs num envelope o dinheiro para uma visita de estudo e apanhou um caderno que estava caído embaixo da cadeira. Assinou um cartão de parabéns para uma amiga, selou o envelope e fez uma pequena lista para supermercado. Colocou ambos os envelopes perto da carteira.
Nessa altura o pai disse lá da sala: “Pensei que você tinha ido deitar”.
“Estou a caminho” respondeu ela.
Pôs água na tigela do cão e chamou o gato para dentro de casa.
Certificou-se de que as portas estão trancadas.
Espreitou para o quarto de cada um dos filhos, apagou a luz de um abat-jour, pendurou uma camisa, atirou umas meias para o cesto da roupa suja e conversou um bocadinho com o mais velho que ainda estava estudando.
Já no quarto acertou o despertador preparou a roupa para o dia seguinte e arrumou os sapatos.
Depois lavou o rosto, passou creme, escovou os dentes e acertou uma unha partida.
A essa altura, o pai desligou a televisão e disse: “vou me deitar”.
E foi... Sem mais nada.
Notam aqui alguma coisa de extraordinário?
Ainda perguntam por que é que as mulheres vivem mais...?
PORQUE SÃO MAIS FORTES. FEITAS PARA RESISTIR.
Enviem este pequeno texto para mulheres fantásticas que conheçam. Elas irão adorar.
Para os homens, bem! Enviem também, pode ser que eles percebam alguma coisa.

Autor desconhecido

O feminismo se constrói, portanto, a partir das resistências, derrotas e conquistas que compõe a História da Mulher e se coloca como um movimento vivo, cujas lutas e estratégias estão em permanente processo de recriação. Na busca da superação das relações hierárquicas entre homens e mulheres, alinha-se a todos os movimentos que lutam contra a discriminação em suas diferentes formas.

“Mulher nova bonita e carinhosa
Faz o homem gemer sem sentir dor”

Zé Ramalho

A revista “PRESENÇA DE MULHER”, ano XIII (dezembro de 2000ª fevereiro de 2001), através de seus editores, escreve uma dedicatória em homenagem à MULHER com o título “A ESSAS E TANTAS OUTRAS” que transcrevemos abaixo:

Essas que se embrenham mata adentro e se negaram aos colonizadores
E as que colaboraram e casaram com eles,
Essas que embarcaram ainda crianças
E as que ultrapassaram o limite da chegada
Essas que levaram chicotadas e marcas de ferro quente,
Essas que se revoltaram e fundaram quilombos,
Essas que vieram embaladas por sonhos
E as que atravessaram nos porões da escuridão,
Essas que geraram filhas e filhos
E as que nunca pariram,
Essas que acenderam toda espécie de velas
E as que arderam nas fogueiras,
Essas que lutaram com armas
E as que combateram sem elas,
Essas que cantaram, dançaram, pintaram e bordaram
E as que só criaram empecilhos,
Essas que escreveram e traduziram seus sentimentos
E as que nem mesmo assinavam o nome,
Essas que clamaram por conhecimento e escolas
E as que derrubaram os muros com os dedos,
Essas que trabalharam nos escritórios e fábricas
E as que empunharam as enxadas no campo,
Essas que ocuparam ruas e praças
E as que ficaram em casa,
Essas que quiseram se tornar cidadãs
E as que imaginaram todas votando,
Essas que assumiram os lugares até então proibidos
Essas que elegeram as outras,
Essas que cuidaram e trataram os diferentes males
E as adoeceram por eles,
Essas que alimentaram e aplacaram os vários tipos de fome
E aquelas que arrumaram a mesa,
Essas que atenderam, datilografaram e secretariaram
E aquelas que lavaram e passaram sem conseguir atenção,
Essas que se doutoraram e ensinaram
 E as que aprenderam com a vida,
Essas que nadaram, correram e pularam
E as que sustentaram a partida,
Essas que não se comportaram bem e amaram de todas as maneiras
E as que fizeram sem pedir licença,
Essas que desafinaram o coro do destino
E as que com isso abriram as alas e as asas,
Essas que ficaram de fora
E aquelas que ainda viram,
Essas e tantas outras que existiram dentro da gente
E as que viveram por nós.

BELFORD ROXO, 20 DE MAIO DE 2011

José Floriano Oliveira

quarta-feira, 18 de maio de 2011

O PORTUGUÊS: UMA LINGUA POLÊMICA

O PORTUGUÊS: UMA LINGUA POLÊMICA


Toda língua é dinâmica. Toda língua sofre sua evolução. Algumas já morreram, outras vivem, mas são de uso restrito (o latim). O caso da língua portuguesa não foge a essa regra sendo criada pela união de vários dialetos até chegar ao estágio em que se encontra e conhecida como “LINGUA DE CAMÕES”.
A lingua portuguesa é uma língua romântica, flexiva que se origina na Península Ibérica dos povos célticos e do latim vulgar dos povos pré-romanos que chegaram àquela região e dos soldados quando da expansão do império romano. O “falar vulgar” da soldadesca, misturando-se com os “falares” da região de forma natural origina o português, o espanhol, o francês e tantas outras línguas denominadas de “língua latina”.
Em final do século XV e início do século XVI os portugueses se atiram aos mares formando um grande império e, com ele o idioma português, que, por sua vez se mistura com o falar dos povos nativos (no caso com nossos indígenas) e posteriormente com o africano. Como conseqüência temos o português falado no Brasil. Para exemplificar a evolução ou sua dinâmica, pode ser citado:
- Vossa Mercê – Vosmicê – Você
- Amare – Amar
- Petra – Pedra
- Ocularum - Óculos
A evolução do idioma normalmente acontece de forma natural como a que vimos acima. É a forma coloquial. Por ser dinâmica pode se encontrar se transformando sem que o falante se dê conta como, por exemplo: ESTÁ – STÁ – TÁ. Pode também ser normatizada por ação oficial. Para tanto as Academias de Letras promovem os estudos e os governos dos países de língua portuguesa, através de “acordos diplomáticos”, buscam unificar e simplificar os “falares do idioma português”. Exemplo: O não uso do trema, do acento circunflexo, do hífen etc. Por ser uma norma imposta e não natural que parta do povo, a sua aceitação é mais demorada, claro que menos para a documentação oficial (é a norma culta). A forma natural, ou seja, a evolução natural da língua, apesar de acontecer em longo prazo, à modificação se dá sem o indivíduo sentir. Quando observa já se está falando.
Estamos vivendo um momento de transformação em nosso idioma que não se adéqua a nenhum dos dois casos citados. O MEC (Ministério de Educação e Cultura) que é obediente a Constituição Federal de 1988, adotou o livro de português “POR UMA VIDA MELHOR” (Editora Global) distribuido para 485 mil alunos em 4236 escolas, tendo a professora Helena Ramos como uma de suas autoras. O conteúdo deste livro se encontra no centro da discussão visto que traz algumas expressões polêmicas, tais como: “NÓS PEGA O PEIXE” ou então, “OS MENINO PEGA O PEIXE”.
Ora, entendemos que o lógico é o ensinamento da norma “CULTA” (para se escrever e falar) e, nos momentos coloquiais que o indivíduo tenha a liberdade de utilizar que melhor lhe aprover
As estatísticas publicadas pela ONU (Organização das Nações Uni das) não apresentam o Brasil como aquele país que devemos nos orgulhar no desenvolvimento de aproveitamento escolar. Assim sendo, “ACEITANDO A PROPOSTA DO MEC, ESTAMOS ENDEREÇANDO O FUTURO PARA O NÍVEL MAIS BAIXO DO QUAL SE ENCONTRA”.
Como podemos entender o futuro desses jovens? Como pode as empresas usar de suas avaliações e admitir o profissional? Seremos um país IMPORTADOR DE MÃO DE OBRA? (as empresas já se encontram em dificuldades de contratar mão de obra qualificada). Será que atingiremos o nível de país do “AGENTE FOMOS” e do “NÓS VAI” ( um ex-companheiro, à frente de instituição representativa de classe, comumente assim se referia em seus discursos quando das reuniões oficiais.
O presidente da Associação Brasileira dos Editores de Livros (ABRELIVROS), Jorge Yunes em entrevista diz: “O importante é contextualizar aos estudantes o porquê da lingua portuguesa constar no livro didático “daquela forma”. Segundo ele o certo é o professor contextualizar a linguagem coloquial e ensinar o português oficial.
O Ministro da Educação Fernando Haddad em entrevista a rádio CBN disse que “OS EXECÍCIOS PROPOSTOS PELO LIVRO EM QUESTÃO PARTEM DA FORMA COMO OS ALUNOS FALAM PARA ENSINAR A USAR A NORMA CULTA”. E continua. “ESTAMOS ENVOLVIDOS EM FALSA POLÊMICA. NINGUÉM ESTÁ PROPONDO ENSINAR ERRADO”. DEFENDEU. “OS LIVROS DIDÁTICOS NÃO TEM NENHUMA ‘INGERÊNCIA GOVERNAMENTAL’. As obras enviadas ao MEC são entregues  para Comissões  Avaliadoras formadas por professores de universidades federais.
Na realidade, os livros didáticos, principalmente os de português, devem exprimir a “forma culta” e os professores, em sala de aula, contextualizar a “forma coloquial”, os “regionalismos”, os “sotaques” etc.
Ora, o artigo 206, inciso VI da Constituição Federal de 1988 determina por PRINCÍPIO: o ensino deve ser ministrado segundo a “GARANTIA E PADRÃO DE QUALIDADE”.
Ficamos aqui com a pergunta. A quem devemos culpar:
1 – aos assessores do ministro Haddad?
2 – aos professores universitários que fazem parte das Comissões avaliadoras por não terem a devida qualificação? De forma podemos aceitar tal despropósito.
3 – ao LOBBY da Editora Global por ser muito eficiente?
4 – Ao ministro Haddad uma polêmica (LEMBREMOS O ENEM).

Belford Roxo, 15 de maio de 2011

José Floriano Oliveira

terça-feira, 10 de maio de 2011

A SOCIEDADE BRASILEIRA E A POESIA FALADA E CANTADA

A SOCIEDADE BRASILEIRA E A POESIA FALADA E CANTADA

Letras de música e fotos: Internet
Textos: José Floriano Oliveira


BRASIL COLÔNIA

O texto que segue não tem nada de original, visto que, em finais dos anos setenta do século passado, já escrevi outro, homenageando o Dia Internacional da Mulher com este formato. Retorno, com o formato, apresentando a sociedade brasileira através da música sem, no entanto, considerar como um trabalho concluído.
Na realidade, a caminhada que nos propomos apresentar passa muito mais pelos seus dissabores contada com ironia, muito das vezes, outras, como protesto, De qualquer forma, é a sociedade que está presente com todas suas mutações.

Erro de português
Osvaldo de Andrade

Quando o português chegou
Debaixo duma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena! Fosse uma manhã de sol
O índio tinha despido
O português






Certo dia, em finais do século XV, o Brasil foi descoberto. DESCOBERTO? Falha nossa, ou é assim que os compêndios oficiais grafam a História do Brasil para os nossos alunos, ou melhor, para nossos filhos. Absurdo?
Caminhemos com nossos poetas:
Invadido o Brasil, sem resistência, vem os homens de vestes negras, que não conseguem ficar distante do Poder, fincam uma cruz e pregam a primeira cerimônia religiosa do homem branco, para, depois, escravizá-lo e Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro assim cantou:


Canto das Três Raças

Compositor: Mauro Duarte / Paulo César Pinheiro
Ninguém ouviu
Um soluçar de dor no canto do Brasil
Um lamento triste sempre ecoou
Desde que o ÍNDIO guerreiro foi pro cativeiro e de lá cantou

NEGRO entoou
Um canto de revolta pelos ares
Do Quilombo dos Palmares
Onde se refugiou
Fora a luta dos INCONFIDENTES
Pela quebra das correntes, nada adiantou
E de guerra em paz, de paz em guerra
Todo
povo dessa terra quando pode cantar
Canta de dor

E ecoa noite e dia
É ensurdecedor
Ai, mas que agonia
O canto do trabalhador
Esse canto que devia ser um canto de alegria
Soa apenas como um soluçar de dor

Candeia, grande compositor, escreve Dia de Graça e homenageia o carnaval, a mulata e lembra ao negro que, o ser escravo não privilégio seu. Portanto, esqueça a idéia preconceituosa de que ser negro é ser menor:




DIA DE GRAÇA
Candeia

Hoje é manhã de carnaval (ao esplendor)
As escolas vão desfilar (garbosamente)
Aquela gente de cor com a imponência de um rei, vai
pisar na passarela (salve a Portela)
Vamos esquecer os desenganos (que passamos)
Viver alegria que sonhamos (durante o ano)
Damos o nosso coração, alegria e amor a todos sem distinção de cor
Mas depois da ilusão, coitado
Negro volta ao humilde barracão
Negro acorda é hora de acordar
Não negue a raça
Torne toda manhã dia de graça
Negro não humilhe nem se humilhe a ninguém
Todas as raças já foram escravas também
E deixa de ser rei só na folia e faça da sua Maria uma rainha todos os dias
E cante o samba na universidade
E verás que seu filho será príncipe de verdade
Aí então jamais tu voltarás ao barracão



No século XVI e XVII, a agroindústria açucareira já se encontrava estabelecida e motivo de novas invasões pelas potências européias. Claro a mão-de-obra continuava a mesma, ou seja, escrava. João Antônio Andreoni (André João Antonil – jesuíta – através do livro “Cultura e Opulência do Brasil” – 1711) viveu no Brasil de 1681 a 1716 quando veio a falecer em Salvador. Em sua obra relata as relações político-econômico-sociais do Brasil colonial assim se referia:
“Os escravos são as mãos e os  pés do senhor de engenho, porque sem eles no Brasil não é possível fazer, conservar e aumentar fazenda, nem ter engenho corrente”.
Mais adiante, continua:                                                                                                                                                                               
“No Brasil costumam dizer que para o escravo são necessários três PPP, a saber: Pau, Pão e Pano. Pau, para os castigos; pão para a alimentação e Pano, para cobrir suas vergonhas”.

Tendo sido o principal centro da produção de açúcar, Pernambuco foi motivo de invasões e ambição do controle estrangeiro. No caso holandês (João Maurício de Nassau) dominou o nordeste de 1630 a 1654, deixando sua cultura nos melhoramentos da região e foi motivo de enredo da Escola de Samba Império Serrano que assim cantava



BRASIL HOLANDÊS
HOMENAGEM A MAURICIO DE NASSAU
(Mano Décio, Abílio Martins e Chocolate)

Lá, lá, rá, lá, rá, rá, rá
Pernambuco teve a glória
Divulgando na história
Do Brasil colonial
O governo altaneiro
Para o solo brasileiro
Culto, sereno e jovial
Deu assistência social

De João Maurício de Nassau
O progresso foi marcado

E por ele foi deixado
Na expansão comercial
Como governador
Conseguiu incrementar
A produção nacional
Foi Maurício de Nassau
Que desenvolveu o Brasil
Na indústria açucareira
E o transporte da nossa madeira
João Maurício de Nassau
Ao grande Brasil colonia


Nas lutas pela reconquista do território dominado pelos holandeses, não só portugueses (branco) tiveram participação. Negros, amarelos (índios), mulatos, mamelucos, cafusos, todos se envolveram nas lutas. A fuga de escravos devemos entender como ato natural. No entanto, é nesse momento que o desejo de liberdade aumenta. A canção a seguir apresenta as origens e caminhada desse povo que muito contribuiu para nossa formação. Vejamos:



AO POVO EM FORMA DE ARTE - QUILOMBO
Composição : Wilson Moreira - Nei Lopes

Quilombo pesquisou suas raízes
E os momentos mais felizes
De uma raça singular
E veio pra mostrar essa pesquisa
Na ocasião precisa
Em forma de arte popular
Há mais de quarenta mil anos atrás
A arte negra já resplandecia
Mais tarde a Etiópia milenar
Sua cultura até o Egito estendia
Daí o legendário mundo grego
A todo negro de "etiope" chamou
Depois vieram reinos suntuosos
De nível cultural superior
Que hoje são lembranças de um passado
Que a força da ambição exterminou
Em toda a cultura nacional
Na arte e até mesmo na ciência
O modo africano de viver
Exerceu grande influência
E o negro brasileiro
Apesar de tempos infelizes
Lutou, viveu, morreu e se integrou
Sem abandonar suas raízes
Por isso o Quilombo desfila
Devolvendo em seu estandarte
A história de suas origens
Ao povo em forma de arte




QUILOMBO DOS PALMARES
Noel Rosa de Oliveira e Anescar Rodrigues
No tempo em que o Brasil ainda era
Um simples país colonial,
Pernambuco foi palco da história
Que apresentamos neste carnaval.
Com a invasão dos holandeses
Os escravos fugiram da opressão
E do julgo dos portugueses.
Esses revoltosos
Ansiosos pela liberdade
Nos arraiais dos Palmares
Buscavam a tranqüilidade.
Ô-ô-ô-ô-ô-ô
Ô-ô, ô-ô, ô-ô.
Surgiu nessa história um protetor.

Zumbi, o divino imperador,
Resistiu com seus guerreiros em sua tróia,
Muitos anos, ao furor dos opressores,
Ao qual os negros refugiados
Rendiam respeito e louvor.
Quarenta e oito anos depois
De luta e glória,
Terminou o conflito dos Palmares,
E lá no alto da serra,
Contemplando a sua terra,
Viu em chamas a sua tróia,
E num lance impressionante
Zumbi no seu orgulho se precipitou
Lá do alto da Serra do Gigante.
Meu maracatu
É da coroa imperial.


A economia colonial que até então de encontrava na região litorânea, se transfere no início do século XVIII para oeste ficando conhecida como Região das Gerais, por ter sido encontrado o metal precioso, produto que os portugueses sempre almejou. Houve mudança na sociedade, sim. O centro econômico passou a girar em torno do ouro e pedras preciosas e portanto, Portugal passou a exercer maior controle. Surge uma classe média ainda que flutuante, visto que o interesse maior se encontrava na produção do ouro, não se desperdiçando tempo em produzir alimentos. Apesar de a grande parte da riqueza seguir para Portugal, a região também se beneficiou, como exemplo temos as obras do Alejadinho no circuito histórico de Mias Gerais e assim foi cantada:



VIDA E OBRA DE ALEIJADINHO
Juca, Duduca e Bala

Foi genial,
Realizou
Maravilhas sem igual
E de real valor,
Incomparável na escultura nacional,
Empolgando o nosso Brasil colonial.
Ô-ô-ô-ô-ô-ô-ô-ô-ô-ô-ô
Antônio Francisco Lisboa,
Aleijadinho,
O imortal,
Ultrapassou a sua dor
Com a arte escultural.
Foi o marco inicial da escultura nacional
Projetando o Brasil
No conceito mundial.
Este grande brasileiro,
De rude formação,
Legou ao Brasil e ao mundo inteiro
O barroco brasileiro,
Nas cidades de Congonhas, Vila Rica, Sabará
E outras mais.
Lá-lá-lá-lá, lá-lá-lá-lá, lá-lá-lá
Revivemos a época
Deste filho de Minas Gerais

A situação da mulher filha do senhor de engenho era muito difícil. Ela era preparada para casar mal aprendendo o que se pode chamar de prendas domésticas. Desde cedo recebia para cuidá-la uma negra que lhe servia de ama de leite (a negra era engravidada ao mesmo tempo em que a mulher do senhor – sinhá – por ser considerada e ter o leite mais forte ou, mais tarde, para que a sinhá não viesse a ter os seios flácidos), e, ao longo da vida da sinhazinha (acompanhante), ser sua mucama. A sinhazinha na idade de 13, 14 anos era oferecida ao filho do senhor de outro engenho (normalmente por interesses econômicos) em casamento. Como os dois pouco sabia da vida sexual, a sua lua de mel transformava-se em um estupro.


TRECHO DA PEÇA ESCUTA ZÉ
Texto e roteiro de
Marilena Ansaldi)

Não sei por que sou negra.
Não sei por que, você é branco.
Nem você, aposto!
Mas, dessa diferença e da nossa ignorância –
Nascem mais desgraças que felicidade.
 Há todo um desequilíbrio
Em si mesmo, nascido dessas raízes.
Para seu bem estar,
Fui trazida, séculos atrás, pro seu país.
Para sua maior riqueza,
Meu estado de escravidão declarada
Passou a liberdade sem qualquer Infra-instrutora
Que me deixasse entrever
Suas boas intenções ou sentimento humanitário.
.

Para sua satisfação,
Ponho sua mesa e sou posta em sua cama
Para seu sossego,
Sou mantida num baixo nível educacional,
Em conseqüência do econômico,
E assim vai, num eterno vice-versa.
Para sua pesquisa,
Sou vista como elemento novo,
Capaz de te possibilitar o reencontro da natureza perdida,
De desatar-te as amarras que você construiu.
Para sua tranqüilidade espiritual,
Sou sempre tratada com a benevolência
Que veste os superiores.

(Trecho da fala de Zenaide na peça “Escuta Zé”



Abaixo podemos cantar o Samba Enredo XICA DA SILVA composto por Noel rosa de Oliveira e Anescarzinho para o Salgueiro em 1963 que traduz a riqueza da Região das Minas Gerais.



XICA DA SILVA
Noel Rosa de Oliveira e Anescarzinho
Apesar
De não possuir grande beleza
Xica da Silva
Surgiu no seio
Da mais alta nobreza.
O contratador
João Fernandes de Oliveira
A comprou
Para ser a sua companheira.
E a mulata que era escrava
Sentiu forte transformação,
Trocando o gemido da senzala
Pela fidalguia do salão.
Com a influência e o poder do seu amor,
Que superou
A barreira da cor,
Francisca da Silva
Do cativeiro zombou ôôôôô
ôôô, ôô, ôô.
No Arraial do Tijuco,
Lá no Estado de Minas,
Hoje lendária cidade,
Seu lindo nome é Diamantina,
Onde nasceu a Xica que manda,
Deslumbrando a sociedade,
Com o orgulho e o capricho da mulata,
Importante, majestosa e invejada.
Para que a vida lhe tornasse mais bela,
João Fernandes de Oliveira
Mandou construir
Um vasto lago e uma belíssima galera
E uma riquíssima liteira
Para conduzi-la
Quando ela ia assistir
À missa na capela




BRASIL IMPÉRIO

Fugindo de Portugal das forças Napoleônicas, D. João VI e toda a Corte Portuguesa, chega ao Brasil em 1808. Para suprir as necessidades da Sede do reino, tornou-se impressindível a criação de infraestrutura para atender a burocracia do governo. Como a nobreza aqui se encontrava, acostumada ao luxo, o lazer, o nada fazer,  atendimento à saúde etc., foi construído teatros, parques, escolas etc. Assim, a colônia que não gosava de nenhum privilégio, passou a ter como diz o samba do Império Serrano.




 Império Serrano - Samba Enredo 1957
DOM JOÃO VI



Foi D. João VI
O precursor da nossa Independência
Belo histórico texto
Esse monarca deixou
Livres todos os portos
E o comércio do Brasil
E outros atos importantes
Que o imortalizara
Em serviços relevantes


Esse vulto imortal
Ao regressar a Portugal
Disse ao seu povo
Oh, que terra hospitaleira
É aquela nação brasileira
Felicidades perenes eu gozei
Ali eu fui feliz
Ali eu fui um rei.




Na segunda metade do século XIX, o Beasil já dera início a sua industrialização ainda que insipiente. É nessa época que o Brasil se envolve em guerra com o Paraguai. Os militares brasileiros pouca experiência tinha guerras. Seus confrontos, até então, haviam sido internos considerados mais como de pacificação. Assim sem endo, é na prática seu grande aprendizado, levando a muitos deles se destacarem como canta o Império Serrano.



IMPÉRIO SERRANO
SAMBA ENREDO 1960

MEDALHAS E BRASÕES

Esta brilhante página
Da nossa história militar
É um lindo cenário de ilustrações
Que glorificaram os nossos rincões
Onde desfilaram
Medalhas e brasões
Que glorificaram
Seus filhos varonis
São fatos da nossa história
Que deram glórias ao nosso país
A coragem de Caxias
O Exército glorificou
A bravura de Marcílio Dias
A Marinha consagrou
Num predomínio de fé
Exaltamos Barroso
E o bravo Tamandaré
Ao finalizar essa história
Narramos as batalhas meritórias
Curuzu, Riachuelo e Paissandu
Tiveram muita expressividade
Em suas vitórias
Sua Majestade
Nosso querido imperador
Orgulhosamente
Nossos heróis condecorou
Lá lá lá lá
Brasil, ó meu querido Brasil



Apesar da insípida estrutura industrial, o Brasil ainda era agrário. A Europa e Estados Unidos já competiam pelo controle dos mercados e fontes de matéria prima mundiais. A Inglaterra, a mais prejudicada com a competição entende que o melhor caminho seria extinguir com a escravidão mundo, visto que, os ex-escravos se transformariam em consumidores. Esse momento assim foi visto por Castro Alves em seu antológico poema, Navio Negreiro


NAVIO NEGREIRO
Castro Alves (trechos)


Era um sonho dantesco... O tombadilho
Que das luzenas avermelha o brilho,
Em sangue a se banhar,
Tinir de ferros...estalar do açoite...
Legiões de homens como a noite,
Horrendos a dançar...(...)
Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura... se é verdade
Tanto horror perante os céus... (...)
Existe um povo que sua bandeira empresta
Para encobrir tanta infâmia e covardia... (...)
Auriverde pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra
E as promessas divinas da esperança...
Tu, que da liberdade após a guerra
Foste hasteada dos heróis na lança,
Antes te houvesse roto na batalha
Que servires a povo de mortalha!...

NAVIO NEGREIRO
Djalma Sabiá e Amado Régis
Apresentamos
Páginas e memórias
Que deram louvor e glórias
Ao altruísta e defensor
Tenaz da gente de cor
Castro Alves, que também se inspirou
E em versos retratou
O navio onde os negros
Amontoados e acorrentados
Em cativeiro no porão da embarcação,
Com a alma em farrapo de tanto mau trato
Vinham para a escravidão.
Ô-ô-ô-ô-ô.
No navio negreiro
O negro veio pro cativeiro.
Finalmente uma lei
O tráfico aboliu,
Vieram outras leis,
E a escravidão extinguiu,
A liberdade surgiu
Como o poeta previu.
Ô-ô-ô-ô-ô.
Acabou-se o navio negreiro,
Não há mais cativeir
Fernandes, Florestan em seu livro “O Negro no Mundo dos Brancos”, descaracteriza o termo de “Democracia Racial” no Brasil como sendo um “mito”. O que temos, na realidade é uma “Tolerância Racial”. O preconceito que até hoje ainda se verifica é fácil de ser constatadoatravés dos provérbios populares:
“Negro não nasce, aparece”.
“Negro não almoça,
“Negro não casa, ajunta”.
“Negro não dorme, cochila”.
“Negro não bebe água, engole pinga”.
“Negro não vive, vegeta”.
“Negro não fala, resmunga”.
“Branco nasceu para o mando
O negro para trabalhar
Quando negro não trabalha
De branco deve apanhar”.

Era nove de novembro. A homenagem a Esquadra Chilena seria um baile na Ilha Fiscal conhecida inicialmente como Ilha dos Ratos que se transformara no Último Baile da Corte Imperial do Brasil.
Assim se deu a despedida do Imperador que governou o Brasil durante 49 anos. Seis dias mais tarde a República foi proclamada e a família imperial retornou a Portugal. Assim Silas de Oliveira e Valdir Medeiros cantou:


O Último Baile da Côrte Imperial
Composição : Silas de Oliveira e Waldir Medeiros
Foi o último baile
Do Brasil Imperial
Foi realizado
Na antiga Ilha Fiscal
Os ilustres visitantes homenageados
Partiram para o seu país distante
Com êxito brilhante, emocionados
Sua Majestade o Imperador
Ao lado da Imperatriz
Diante de tanto esplendor
Sentia-se alegre e feliz
Jamais acreditaria
Que o seu reinado terminaria
E mesmo a Corte não pensando assim
A monarquia chegava ao fim



O BRASIL REPÚBLICA




POEMA DE JOSÉ PAULO PAES

Vamos passear na floresta
Enquanto dom Pedro não vem.
Dom Pedro é um rei filósofo,
Que não faz mal a ninguém.

Vamos sair a cavalo,
Pacíficos, desarmados:
A ordem acima de tudo,
Como convém a um soldado.

Vamos fazer a República
Sem barulho, sem litígio,
Sem nenhuma guilhotina,
Sem qualquer barrete frigio.

Vamos com farda de gala,
Proclamar os tempos novos,
Mas cautelosos, furtivos,
Para não acordar o povo



No final do século XIX e início do século XX o Brasil tinha a quarta frota naval do mundo grande reduto da nobreza. No entanto, a situação dos marinheiros era o pior possível devido praticar uma disciplina opressora, esquecendo-se que foram com que lutaram lado-a-lado durante a Guerra do Paraguai. As punições eram violentas sendo utilizada a CHIBATA e o soldo, se é que assim poder-se-ia chamar, era simplesmente vergonhoso. Além disso, os marinheiros desejavam ter melhor acesso aos estudos o qual continuava sendo privilégio da oficialidade. João Bosco e Aldir Blanc assim registraram.

O Mestre-Sala dos Mares 

João Bosco e Aldir Blanc


Há muito tempo nas águas da Guanabara
O dragão do mar apareceu
Na figura de um bravo marinheiro
A quem a história não esqueceu
Conhecido como almirante negro
Tinha a dignidade de um mestre-sala
E ao acenar pelo mar, na alegria das regatas
Foi saudado no porto
Pelas mocinhas francesas
Jovens polacas e por batalhões de mulatas


Rubras cascatas
Jorravam das costas dos negros
Entre cantos e chibatas

Inundando o coração
Do pessoal do porão
Que a exemplo do marinheiro gritava, então:


Glória aos piratas, às mulatas, às sereias,
Glória à farofa, à cachaça, às baleias,
Glória a todas as lutas inglórias
Que através da nossa história
Não esqueceram jamais.........


Salve o almirante negro
Que tem por monumento
As pedras pisadas do cais


(Mas, salve...)


Salve o almirante negro
Que tem por monumento
As pedras pisadas do cais
No Nordeste, ao final do século XIX surge a figura de Antônio Mendes de Maciel, “Antônio Conselheiro”, grande protagonista de Canudos. Antônio Conselheiro vivia fazendo pregações místicas, insurgindo-se contra algumas reformas da Igreja Católica.

Os Sertões (1976)
Composição : Edeor de Paula
Marcado pela própria natureza
O Nordeste do meu Brasil
Oh! solitário sertão
De sofrimento e solidão
A terra é seca
Mal se pode cultivar
Morrem as plantas e foge o ar
A vida é triste nesse lugar
Sertanejo é forte
Supera miséria sem fim

Sertanejo homem forte (bis)
Dizia o Poeta assim
Foi no século passado
No interior da Bahia
O Homem revoltado com a sorte
do mundo em que vivia
Ocultou-se no sertão
espalhando a rebeldia
Se revoltando contra a lei
Que a sociedade oferecia
Os Jagunços lutaram
Até o final
Defendendo Canudos (bis)
Naquela guerra fatal


A SEMANA DA ARTE MODERNA

Ocorreu em são Paulo nos dias 13, 15 e 17 do ano de 1922, no Teatro Municipal, representou uma verdadeira renovação na linguagem, na busca de experimentação, na liberdade de criação e ruptura com o passado e mesmo corporal artísticos, com o modernismo
Alguns destaques consagrados do modernismo brasileiro: Mário de Andrade, Oswaldo de Andrade, Victor Brecheret, Anita Malfatti, Menotti Del Pichia, Heitor Villa-Lobos, Tarsila do Amaral, Di Cavalcanti. Rubens Borba de Moraes não participou por estar acamado.
Porém, o momento mais sensacional da Semana ocorre na segunda noite, quando Ronald de Carvalho lê um poema de Manuel Bandeira, o qual não comparecera ao teatro por motivos de saúde: Os sapos. Trata-se de uma ironia corrosiva aos parnasianos, que ainda dominavam o gosto do público. Este reage através de vaias, gritos, patadas, interrompendo a sessão. Mas, metaforicamente, com sua iconoclastia pesada, o poema delimita o fim de uma época cultural:
ENFUNANDO SAPOS


Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.

Em ronco que aterra,
Berra o sapo-boi:
'- Meu pai foi à guerra
- Não foi! - Foi! - Não foi!'

O sapo-tanoeiro
Parnasiano aguado
Diz: - 'Meu cancioneiro
É bem martelado*.'

Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos.

O meu verso é bom
Frumento* sem joio.

Faço rimas com
Consoantes de apoio.

Vai por cinqüenta anos
Que lhe dei a norma:
Reduzi sem danos
A formas a forma. Clame a sapataria
Em críticas céticas:
'Não há mais poesia,
Mas há artes poéticas...'

Brada de um assomo
O sapo-tanoeiro:
'A grande arte é como
Lavor de Joalheiro'

Urra o sapo-boi:
'- Meu pai foi rei - Foi!
- Não foi! - Foi! - não foi!'


GETÚLIO VARGAS E O PODER

A Revolução de 1930, com o Slogan de liberal, levou o Senhor Getúlio Vargas ao Poder, derrotando o CORONELISMO, ou seja, o controle dos fazendeiros do café e do leite que comandaram a política do Brasil na chamada República Velha. Era a vitória do meio urbano. Tem início as reformas político-institucionais para garantir o novo tempo. Por não haver um conjunto de lei específicas para o trabalho assalariado, o Senhor Getúlio, por Decretos-Leis tratou de implementá-las, a tal ponto, que ficou conhecido como o Pai do Trabalhador,ou Pai dos Pobres. Os nossos poetas de plantão assim registraram seu longo período de governo de 15 anos.



PERGUNTAS DE UM TRABALHADOR QUE LÊ
Bertolt Brecht

Quem construiu a Tebas das Sete Portas?
Nos livros constam nomes de reis.
Arrastaram eles os blocos de pedra?
E a Babilônia várias vezes destruída?
Quem a reconstruiu tantas vezes? Em que casas
Da Lima dourada moravam os operários?
Para onde foram os pedreiros, na noite em que
A Muralha da China ficou pronta?
A grande Roma está cheia de Arcos do Triunfo.
Quem os ergueu? Sobre quem triunfaram os Césares?
A decantada Bizâncio
Tinha somente palácios para seus habitantes?
Mesmo na lendária Atlântida
Os que se afogaram gritaram por seus escravos
Na noite em que o mar os tragou

O jovem Alexandre conquistou a Índia.
Sozinho?
Cesar derrotou os gauleses.

Não levava sequer um cozinheiro?
Felipe da Espanha chorou, quando sua Armada
Naufragou. Ninguém mais chorou?
Frederico II venceu a Guerra dos Sete Anos.
Quem venceu além dele?

Cada página uma vitória.
Quem cozinhava o banquete?
A cada dez anos um grande homem.
Quem pagava a conta?

Tantas histórias




O ANALFABETO POLÍTICO
Bertolt Brecht
O pior analfabeto
É o analfabeto político,
Ele não ouve, não fala,
nem participa dos acontecimentos políticos.
Ele não sabe que o custo de vida,
o preço do feijão, do peixe, da farinha,
do aluguel, do sapato e do remédio
dependem das decisões políticas.

. O analfabeto político
é tão burro que se orgulha
e estufa o peito dizendo
que odeia a política
Não sabe o imbecil que,
da sua ignorância política
nasce a prostituta, o menor abandonado,
e o pior de todos os bandidos,
que é o político vigarista,
pilantra, corrupto e o lacaio
das empresas nacionais e multinacionais.







CONSTRUÍSMO
J. Floriano Oliveira

A maior virtude do homem
É saber ouvir, já dizia Sidarta.
Para Bertolt Brecht o pior sindicalista
É aquele que não fala e não quer ouvir

Sindicato é uma associação
Em defesa dos interesses comuns
Sindicalismo é doutrina que congrega,
Preconiza, defende a política sindical.
Sindicalista é o militante doutrinário.

Sindicato não é emprego
Sindicato não é negócio
Sindicato não é meio-de-vida
Sindicato não é o “Eu”

Sindicato se conjuga o “Nós”
Sindicato não é singular
Sindicato é plural
Sindicato é categoria
Sindicato não é indivíduo
Sindicato é luta
Sindicato é presente
Sindicato é vida
Sindicato é amalgamar
Sindicato é construção

Na construção do “Eu” sindicato
Não se constrói o “Eu” indivíduo
Não existe obscurantismo
Muito menos narcisismo
E na linha do “ISMO”
Não cabe “EGO-ISMO”
Sindicato, portanto, é SOCIAL-ISMO

Quem trabalha é que tem razão
Eu digo e não tenho medo de errar
O bonde São Januário
Leva mais um operário:
Sou eu que vou trabalhar
Em outubro de 1945, os chefes militares exigiram a renúncia de Getúlio Vargas que foi aceita. De volta ao Poder constitucionalmente em 1950, após o governo Dutra, sua campanha assim foi conduzida:

Bota o retrato do velho outra vez
Bota no mesmo lugar
O sorriso do velhinho
Faz a gente trabalhar
(música de campanha de Vargas)

A aceleração da industrialização foi uma das grandes metas do governo JK, justificando o “slogan” “50 anos em 5”. Montou-se um tripé, formado pelo empresariado nacional, investidores estrangeiros e o governo federal. O outro lado era criar a capital do Brasil no interior e, para tanto, ter-se-ia que abrir estradas, desenvolver a indústria automobilística e, principalmente, criar empregos
O seu “Plano de Metas” tinha como prioridades eram os setores industriais básicos e a educação. Claro que os grandes investimentos aceleraram a inflação afetando, principalmente as camadas mais populares, contornadas pela euforia existente. Assim o cancioneiro popular grafou o momento:


CIDADÃO

        (Lúcio Barbosa)

Ta vendo aquele edificio moco, ajudei a levantar.
Foi um tempo de aflicao, era quatro conducao, duas pra ir , duas pra voltar.
Hoje depois dele pronto, olho pra cima e fico tonto, mais me chega um cidadao, e me diz disconfiado: Tu ta ai admirado ou ta querendo roubar?
Meu domingo esta perdido, vou pra casa entristecido, da vontade de beber,e pra aumentar o meu tedio eu nem posso olhar pro predio que eu ajudei a fazerTa vendo aquele colegio moco, eu tambem trabalhei la,la eu quase me arrebento , pus a massa, fiz cimento, ajudei a rebocar.


Minha filha inocente, vem pra mim toda contente: Pai vou me matricular, Mas me chega um cidadao : Crianca de pe no chao , aqui nao pode estudar.
Essa dor doeu mais forte, por que que eu deixei o norte , eu me pus a me dizer, la a seca castigava mas do pouco que eu plantava, tinha direito a comer.
Ta vendo aquela igreja moco , onde o padre diz amen.
Pus o sino e o badalo ,enchi minha mao de calo, la eu trabalhei tambem.
La sim valeu a pena tem quermese tem novena e o padre me deixa entra, foi la que Cristo me disse: rapaz deixe de tolice, nao se deixe amendrotar.
(Refrao) 2 vezes
Fui eu que criou a terra, anchi o rio, fiz a serra , nao deixei nada faltar, Hoje o homen criou asa e na maioria das casas eu tambem nao posso entrar.

Ironizando o presidente Juscelino Juca chaves com suas sátiras musicais, Juca Chaves critica os excessos de despesas, suas viagens da Velhacap (Rio de Janeiro) para gerenciar as obras da Novacap (Brasília). São sátiras saudáveis, que na realidade se resume na Bossa Nova (estilo) de governar.







PRESIDENTE BOSSA NOVA

Bossa nova mesmo é ser presidente
Desta terra descoberta por Cabral
Para tanto basta ser tão simplesmente
Simpático, risonho, original
Depois, desfrutar da maravilha
De ser o presidente do Brasil
Voar da “Velhacap” (Rio de Janeiro} pra Brasília
Ver Alvorada e voar de volta ao Rio.
Voar, voar, voar,
Voar, voar, pra bem distante


Até Versalhes, onde duas mineirinhas
Valsinhas, dançam como debutantes
Interessante.
Mandar parente a jato pro dentista,
Almoçar com tenista campeão
Também pode ser um bom artista
Exclusivista.
Tomando, com Dilermando, umas aulinhas de violão.
Isso é viver como se aprova
É ser um presidente bossa nova
Bossa nova. Muito nova. Nova mesmo. Ultranova





O GOLPE MILITAR
O que aparentemente o Brasil voltaria à normalidade democrática com as eleições de Eurico Gaspar Dutra e Juscelino Kubitschek de Oliveira, o novo presidente, Jânio da Silva Quadros após alguns meses de governo renuncia, levando o país a uma crise político institucional de gravidade incomensurável.
Assim é que a 31 de março de 1964, os militares unidos a alguns políticos promovem o Golpe de Estado que durará vinte anos.


Ao assumir o governo com a deposição de João Goulart, foi instalada uma Junta Militar e no dia 9 de abril desse mesmo ano, decretou o Ato Institucional no 1 (AI-1).
Nesse curto período de governo, Castelo Branco editou a o Ato Institucional no2, que extinguiu os partidos políticos,
Ainda nesse mesmo ano, foi editado o Ato Institucional no3 (AI-3), estabelecendo eleições indiretas para governadores e a nomeação dos prefeitos de capitais. Em 1967, Castelo Branco, baixou a Lei de Segurança Nacional e a Lei de Imprensa, aumentando o controle do governo sobre os meios de comunicação.
Em março de 1968 reprimindo um ato dos estudantes, mata Édson Luis de Lima Souto no restaurante universitário Calabouço. A partir desse momento os ânimos se acirram, levando os estudantes a promoverem a PASSEATA DOS CEM MIL sob o comando do presidente da UNE, Luis Travassos.
Mais uma vez entra em cena os plantonistas: escritores poetas, compositores, cronistas, a sociedade organizada (ABI,. OAB, CNBB, UNE, SINDICATOS etc. Dentre estes destaco aqui, Geraldo Vandré, Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gonzaguinha e tantos outros que direta ou veladamente contraíram para o restabelecimento da Democracia.
Chico Buarque é um compositor que dispensa comentários. Tenho certeza que há convenço. Em Apesar de Você, Chico critica o Golpe Militar, como também, o general Médici que tinha por ele, verdadeira ojeriza. Em sua composição, adverte aos militares que seu poder não é permanente, portanto, ao seu final, irá se arrepender de todas as injustiças cometidas.


APESAR DE VOCÊ

Hoje você é quem manda
Falou, tá falado
Não tem discussão, não.
A minha gente hoje anda
Falando de lado e olhando pro chão
Viu?
Você que inventou esse Estado
Inventou de inventar
Toda escuridão
Você que inventou o pecado
Esqueceu-se de inventar o perdão
(Coro) Apesar de você
amanhã há de ser outro dia
Eu pergunto a você onde vai se esconder
Da enorme euforia?
Como vai proibir
Quando o galo insistir em cantar?

Água nova brotando
E a gente se amando sem parar
Quando chegar o momento
Esse meu sofrimento
Vou cobrar com juros. Juro!
Todo esse amor reprimido,
Esse grito contido,
Esse samba no escuro
Você que inventou a tristeza
Ora tenha a fineza
de "desinventar"
Você vai pagar, e é dobrado,
Cada lágrima rolada
Nesse meu penar
(Coro2) Apesar de você
Amanhã há de ser outro dia.
Ainda pago pra ver
O jardim florescer
Qual você não queria

Você vai se amargar
Vendo o dia raiar
Sem lhe pedir licença
E eu avou morrer de rir
E esse dia há de vir
antes do que você pensa
Apesar de você
(Coro3) Apesar de você
Amanhã há de ser outro dia
Você vai ter que ver
A manhã renascer
E esbanjar poesia
Como vai se explicar
Vendo o céu clarear, de repente,
Impunemente?
Como vai abafar
Nosso coro a cantar,
Na sua frente.
Apesar de você
(Coro4) Apesar de você
Amanhã há de ser outro dia.
Você vai se dar mal, etc e tal,
La, laiá, la laiá, la laiá??




Antes de tudo foi um revolucionário com suas composições. Enxergava a sociedade através de suas canções levando suas mensagens de protestos como a que citamos abaixo em relação aos governos militares que se instalara no Brasil. Participou dos festivais dos anos 60/70 sempre criticando a repressão e as perseguições. Nos anos 80 do século XX, com o retorno dos militares à caserna, Gonzaguinha se dedicou a canções românticas sem deixar a sensibilidade pelo comportamento social.




E VAMOS À LUTA
Gonzaguinha


Eu acredito é na rapaziada
Que segue em frente e segura o rojão
Eu ponho fé é na Fe da moçada
Que não foge da fera, e segura o leão
Eu vou à luta com essa juventude
Que não foge da raia a troco de nada
Eu vou no dessa mocidade
Que não ta na saudade e constrói
A manhã desejada



Aquele que sabe que é negro
O coro da gente
E segura à batida da vida o ano inteiro
Aquele que o sufoco de um jogo tão duro
E apesar dos pesares ainda se orgulha de ser brasileiro
Aquele que sai da batalha
Entra no botequim, pede uma cerva gelada
E agita na mesa uma batucada
Aquele que manda o pagode
e sacode a poeira suada da luta e faz a brincadeira
pois o resto é besteira
e nós estamos pelai


A produção musical de Caetano Veloso como quase a totalidade dos jovens compositores dos anos 60 (final), 70 e 80, do século XX, tem como temáticao romantismo, desaguando nos anos 70 encontra a veia da resistência contra o controle do poder por aqueles que o usurpou em 1964. em Podres Poderes, critica a onda militar que se abateu sobre a América Latina e, em especial, sobre o Brasil.




PODRES PODERES

Enquanto os homens exercem
Seus podres poderes
Motos e fuscas avançam
Os sinais vermelhos
E perdem os verdes
Somos uns boçais...
Queria querer gritar
Setecentas mil vezes
Como são lindos
Como são lindos os burgueses
E os japoneses
Mas tudo é muito mais...
Será que nunca faremos
Senão confirmar
A incompetência
Da América católica
Que sempre precisará
De ridículos tiranos
Será, será, que será?
Que será, que será?
Será que esta
Minha estúpida retórica
Terá que soar
Terá que se ouvir
Por mais zil anos...
Enquanto os homens exercem
Seus podres poderes
Índios e padres e bichas
Negros e mulheres
E adolescentes
Fazem o carnaval...

Queria querer cantar
Afinado com eles
Silenciar em respeito
Ao
seu transe num êxtase
Ser indecente
Mas tudo é muito mau...
Ou então cada paisano
E cada capataz
Com sua burrice fará
Jorrar sangue demais
Nos pantanais, nas cidades
Caatingas e nos gerais
Será que apenas
Os hermetismos pascoais
E os tons, os mil tons
Seus sons e seus dons geniais
Nos salvam, nos salvarão
Dessas trevas e nada mais...
Enquanto os homens exercem
Seus podres poderes
Morrer e matar de fome
De raiva e de sede
São tantas vezes
Gestos naturais...
Eu quero aproximar
O meu cantar vagabundo
Daqueles que velam
Pela alegria do mundo
Indo e mais fundo
Tins e bens e tais...
Será que nunca faremos
Senão confirmar
Na incompetência
Da América católica
Que sempre precisará
De ridículos tiranos
Será, será, que será?
Que será, que será?
Será que essa
Minha estúpida retórica
Terá que soar
Terá que se ouvir
Por mais zil anos...
Ou então cada paisano
E cada capataz
Com sua burrice fará
Jorrar sangue demais
Nos pantanais, nas cidades
Caatingas e nos gerais...
Será que apenas
Os hermetismos pascoais
E os tons, os mil tons
Seus sons e seus dons geniais
Nos salvam, nos salvarão
Dessas trevas e nada mais...
Enquanto os homens
Exercem seus podres poderes
Morrer e matar de fome
De raiva e de sede
São tantas vezes
Gestos naturais
Eu quero aproximar
O meu cantar vagabundo
Daqueles que velam
Pela alegria do mundo...
Indo mais fundo
Tins e bens e tais!
Indo mais fundo
Tins e bens e tais!
Indo mais fundo
Tins e bens e tais!


Apesar de ter sido escrita durante a Segunda Guerra Mundial e a Ditadura de Vargas, a poesia de Drummond é uma atual representação do brasileiro que viveu nos anos da ditadura militar mais recente, resistindo e seguindo em frente mesmo quando os governantes militares atropelam a caminhada da democracia e das liberdades.


JOSÉ
Carlos Drummond de Andrade

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama protesta,
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?
tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,

seu terno de vidro, sua incoerência,
seu ódio - e agora?
Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,

mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse…
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, pra onde?





A composição abaixo vem do tempo em que a opressão militar controla a sociedade em todos os sentidos de sua vida. Caetano Veloso não ficou ausente dos protestos a conjuntura instalada, e assim foi perseguido pela censura, preso e exilado juntamente com Gilberto Gil. A letra da música Alegria, Alegria é uma crítica ao governo, como também, a alienação do jovem que devido à censura adotavam conceitos culturais alienígenas, principalmente dos Estados Unidos, introduzidos no Brasil através da mídia.



Alegria, Alegria
Caminhando contra o vento
Sem lenço e sem documento
No sol de quase dezembro
Eu vou...
O sol se reparte em crimes
Espaçonaves
, guerrilhas
Em cardinales bonitas
Eu vou...
Em caras de presidentes
Em grandes beijos de amor
Em dentes, pernas, bandeiras
Bomba e Brigitte Bardot...

O sol nas bancas de revista
Me enche de alegria e preguiça
Quem lê tanta notícia
Eu vou...
Por entre fotos e nomes
Os olhos cheios de cores
O peito cheio de amores vãos
Eu vou
Por que não, por que não...
Ela pensa em casamento
E
eu nunca mais fui à escola
Sem lenço e sem documento,
Eu vou...
Eu tomo uma coca-cola
Ela pensa em casamento
E
uma canção me consola
Eu vou...

Por entre fotos e nomes
Sem livros e sem fuzil
Sem fome, sem telefone
No coração do Brasil...
Ela nem sabe até pensei
Em cantar na televisão
O sol é tão bonito
Eu vou...
Sem lenço, sem documento
Nada no bolso ou nas mãos
Eu quero seguir vivendo, amor
Eu vou...
Por que não, por que não...
Por que não, por que não...
Por que não, por que não...
Por que não, por que não...





A ditadura militar marcou o povo brasileiro profundamente no que tange sua repressão. Esse período de chumbo como ficou denominado permitiu que o jovem tivesse condições de abrir seus caminhos lutando contra as adversidades.
Aprenderam, por exemplo, a não aguardar que os políticos de plantão fossem os responsáveis em colocar o Pão em sua Mesa. A luta pela liberdade é a luta diária. Entenderam que não se mendiga liberdade. Para se ter liberdade se na luta do dia-a-dia.
Essa é a grande mensagem de Geraldo Vandré em Pra Não Dizer Que Não Falei Flores. Aproveite, cantem com ele:



PRA NÃO DIZE QUE NÃO FALEI DAS FLORES
Geraldo Vandré

Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Somos todos iguais
Braços dados ou não
Nas escolas, nas ruas
Campos, construções
Caminhando e cantando
E seguindo a canção...
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer...
Pelos campos há fome
Em grandes plantações
Pelas marchando



Ainda fazem da flor
Seu mais lindo refrão
E acreditam nas flores
Vencendo o canhão
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer
Há soldados armados
Amados ou não
Quase todos perdidos
De armas na mão
Nos quartéis lhes ensinam
Uma antiga lição
De morrer pela Pátria
E viver sem razão...
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer
Nas escolas, nas ruas
Campos, construções
Somos todos soldados
Armados ou não
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Somos todos iguais
Braços dados ou não...
Os amores na mente
As flores no chão
A certeza na frente
A história na mão
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Aprendendo e ensinando
Uma nova lição...
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer





A mistura das etnias, a evolução de nosso idioma que partindo do grego chega até nós através do português que se mistura com nosso indígena e com os negros africanos contribuindo com seu falar dolente, romantizado, para, mais tarde, se amalgamar aos idiomas dos povos que imigraram para nossa terra. Desse caldeamento, o melhor exemplo, é o religioso que Martinho da Vila nos brinda.

A trajetória de Solano Trindade é marcada pela defesa dos direitos das camadas menos favorecidas. Como exemplo foi escolhida a poesia Trem Sujo da Leopoldina.




TREM SUJO DA LEOPOLDINA
Solano Trindade
Trem sujo da Leopoldina
correndo, correndo
parece dizer
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome

Estação de Caxias
de novo a correr
de novo a dizer
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome
Vigário Geral
Lucas
Cordovil
Brás de Pina
Penha Circular
Olaria
Ramos
Bom Sucesso
Carlos Chagas
Triagem, Mauá
trem sujo da Leopoldina
correndo, correndo
parece dizer
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome
Quantas caras tristes
querendo chegar
em algum destino
em algum lugar

Trem sujo da Leopoldina
correndo, correndo
parece dizer
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome
Só nas estações
quando vai parando
lentamente começa a dizer
se tem gente com fome
dá de comer
se tem gente com fome
dá de comer
se tem gente com fome
dá de comer
Mas o freio de ar
todo autoritário

A Aquarela do Brasil de Silas de Oliveira é um verdadeiro passeio pelas belezas do Brasil. Sua caravana percorre os pontos culturais de Norte a Sul, de Leste a Oeste. Fala de seu povo, do sincretismo religioso enaltecendo o cenário maravilhoso que é nosso país. Cantemos:



AQUARELA DO BRASIL

(Silas De Oliveira)

Vejam esta maravilha de cenário
É um episódio relicário
Que o artista num sonho genial
Escolheu pra este carnaval
E o asfalto como passarela
Será a tela do Brasil em forma de aquarela
Passeando pelas cercanias do Amazonas
Conheci vastos seringais
No Pará a ilha de Marajó
E a velha cabana do Timbó.
Caminhando ainda um pouco mais
Deparei com lindos coqueirais
Estava no Ceará, terra de Irapuã
De Iracema e Tupã.
Fiquei radiante de alegria
Quando cheguei na Bahia
Bahia de Castro Alves,do acarajé.
Das noites de magia do candomblé
Depois de atravessar as matas do Ipu
Assisti em Pernambuco
A
festa do frevo e do maracatu.
Brasília tem o seu destaque
Na arte,na Beleza e arquitetura
Feitiço de garoa pela serra
São Paulo engrandece a nossa terra
Do leste por todo centro-oeste
Tudo é belo e tem lindo matiz
O Rio do samba e das batucadas
Dos malandros e mulatas
De requebros febris
Brasil,
Essas nossas verdes matas
Cachoeiras e cascatas
De colorido sutil
E este lindo céu azul de anil
Emolduram em aquarela o meu Brasil




O poema de João Cabral de Mello Neto, Morte e vida Severina, contido em seu livro Poesias Completas em forma de narrativa, representa o sofrimento do retirante nordestino e sua luta por um pedaço de terra que se encontra em mãos do latifundiário.
Ainda jovem Chico Buarque de Holanda musicou um trecho que apresentamos a seguir:


O RETIRANTE EXPLICA AO LEITOR
QUEM É E A QUE VAI

— O meu nome é Severino,
como não tenho outro de pia.
Como há muitos Severinos,
que é santo de romaria,
deram então de me chamar
Severino de Maria
como há muitos Severinos
com mães chamadas Maria,
fiquei sendo o da Maria
do finado Zacarias.
Mais isso ainda diz pouco:
há muitos na freguesia,
por causa de um coronel
que se chamou Zacarias
e que foi o mais antigo
senhor desta sesmaria.
Como então dizer quem falo
ora a Vossas Senhorias?

Vejamos: é o Severino
da Maria do Zacarias,
lá da serra da Costela,
limites da Paraíba.
Mas isso ainda diz pouco:
se ao menos mais cinco havia
com nome de Severino
filhos de tantas Marias
mulheres de outros tantos,
já finados, Zacarias,
vivendo na mesma serra
magra e ossuda em que eu vivia.
Somos muitos Severinos
iguais em tudo na vida:
na mesma cabeça grande
que a custo é que se equilibra,
no mesmo ventre crescido
sobre as mesmas pernas finas
e iguais também porque o sangue,
que usamos tem pouca tinta.
E se somos Severinos
iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual,
mesma morte severina:
que é a morte de que se morre
de velhice antes dos trinta,
de emboscada antes dos vinte
de fome um pouco por dia
(de fraqueza e de doença
é que a morte severina
ataca em qualquer idade,
e até gente não nascida).
Somos muitos Severinos
iguais em tudo e na sina:
a de abrandar estas pedras
suando-se muito em cima,
a de tentar despertar
terra sempre mais extinta,
a de querer arrancar
alguns roçado da cinza.
Mas, para que me conheçam
melhor Vossas Senhorias
e melhor possam seguir
a história de minha vida,
passo a ser o Severino
que em vossa presença emigra.






Morte e vida Severina

Esta cova em que estás, com palmos medida
É a conta menor que tiraste em vida

É de bom tamanho, nem largo, nem fundo
É a parte que te cabe deste latifúndio

Não é cova grande, é cova medida
É a terra que querias ver dividida

É uma cova grande pra teu pouco defunto
Mas estarás mais ancho que estavas no mundo

É uma cova grande pra teu defunto parco
Porém mais que no mundo, te sentirás largo

É uma cova grande pra tua carne pouca
Mas a terra dada nao se abre a boca

É a conta menor que tiraste em vida

É a parte que te cabe deste latifúndio
(É a terra que querias ver dividida)

Estarás mais ancho que estavas no mundo
Mas a terra dada nao se abre a boca




Gonzagão em sua composição “O Último Pau de Arara”, retrata os percalços do retirante fugindo da seca do Nordeste. Era um tempo de êxodo em direção à cidade grande (década de 40 do século XX). O êxodo vem a ter continuidade nos anos 50/60 com o advento do governo de Juscelino Kubtschek e sua política de cinqüenta anos em cinco com a criação de Brasília.


último Pau de Arara
A vida aqui só é ruim
Quando não chove no chão
Mas se chover dá de tudo
Fartura tem de montão
Tomara que chova logo
Tomara meu Deus tomara
Só deixo o meu cariri
No último pau-de-arara (bis)

Enquanto a minha vaquinha
Tiver o couro e o osso
E puder com o chocalho
Pendurado no pescoço
Eu vou ficando por aqui
Que deus do céu me ajude
Quem sai da terra natal
Em outros cantos não para
Só deixo o meu cariri
No último pau-de-arara (bis

Gilberto Gil foi ministro da cultura no segundo governo de Luis Inácio Lula da Silva. Compositor, cantor, musicista, instrumentista compõe “Procissão” criticando a religiosidade do brasileiro e seu credo nos políticos que, através de promessas usam o povo para se perpetuar no poder. Acompanhem:



Procissão

Olha lá
Vai passando
A procissão
Se arrastando
Que nem cobra
Pelo chão
As pessoas
Que nela vão passando
Acreditam nas coisas
Lá do céu
As mulheres cantando
Tiram versos
Os homens escutando
Tiram o chapéu



O que Jesus prometeu
E Jesus prometeu
Coisa melhor
Prá quem vive
Nesse mundo sem amor
Só depois de entregar
O corpo ao chão
Só depois de morrer
Neste sertão
Eu também
Tô do lado de Jesus
Só que acho que ele
Se esqueceu
De dizer que na Terra
A gente tem
De arranjar um jeitinho
Pra viver

Eles vivem penando
Aqui na Terra
Esperando Muita gente se arvora
A ser Deus
E promete tanta coisa
Pro sertão
Que vai dar um vestido
Pra Maria
E promete um roçado
Pro João
Entra ano, sai ano
E nada vem
Meu sertão continua
Ao Deus dará
Mas se existe Jesus
No firmamento
Cá na Terra
Isso tem que se acabar


Todos nós já escrevemos um poema, um acróstico, uma frase sobre a Mulher Brasileira e essa capacidade de recuperação, de luta, de consenso, de vanguarda. Martinho da Vila por várias vezes já a homenageou. Não seria nesse trabalho que ela ficaria de fora. Saudemo-la:



CIDADÃ BRASILEIRA


Mulher brasileira
Que vai no mercado
E pechincha na feira
Mulher brasileira, mulher brasileira
A bem sucedida,
E a que está mal de vida
Sem eira nem beira
Mulher brasileira, mulher brasileira
Mulher brasileira
Cidadã brasileira

Ela é delegada
Ela é deputada
Prefeita e juíza
Uma boa mulher
Com um grande ideal
É o que a gente precisa
Sempre foi retaguarda
Mas vai pra vanguarda
De modo viril
E é a esperança
No futuro do Brasil
Fiz amor com ternura
Com uma doçura
De fêmea guerreira
Pra você fiz um samba
Cidadã brasileira


Martinho da Vila narra sua caminhada durante os anos que fazia sua graduação em direito. O Pequeno Burguês critica a sociedade onde só uma pequena parte da população tinha acesso formação superior nas universidades públicas, enquanto as camadas mais carentes disputavam as vagas em instituições privadas sem condições financeiras.

PEQUENO BURGUÊS

Felicidade!
Passei no vestibular
Mas a faculdade
É particular
Particular!
Ela é particular
Particular!
Ela é particular...
Livros tão caros
Tanta taxa prá pagar
Meu dinheiro muito raro
Alguém teve que emprestar
O meu dinheiro
Alguém teve que emprestar...
O meu dinheiro
Alguém teve que emprestar
Morei no subúrbio
Andei de trem atrasado
Do trabalho ia prá aula
Sem jantar e bem cansado
Mas lá em casa
À meia-noite
Tinha sempre a me esperar
Um punhado de problemas
E criança prá criar...
Para criar!
Só criança prá criar
Para criar!
Só criança prá criar...
Mas felizmente
Eu consegui me formar
Mas da minha formatura
Não cheguei participar
Faltou dinheiro prá beca
E também pro meu anel

vem o diretor careca
Entregou o meu papel...
O meu papel!
Meu canudo de papel
O meu papel!
Meu canudo de papel...
E depois de tantos anos
Só decepções, desenganos
Dizem que sou um burguês
Muito privilegiado
Mas burgueses são vocês
Eu não passo
De um pobre coitado
E quem quiser ser como eu
Vai ter é que penar um bocado
Um bom bocado!
Vai penar um bom bocado
Um bom bocado!
Vai penar um bom bocado
Um bom bocado!


AGRADECIMENTOS

Durante o curto período da montagem desse trabalho estive em companhia de pessoas, que se destacaram na sociedade brasileira como cantores, compositores, poetas, escritores, cronistas e outros. Alguns dos citados já seguiram sua viagem, outros, ainda continuam entre nós e mantenham por longo tempo, produzindo, para que possamos aplaudi-los.
Sabedor que um trabalho de pesquisa não se encerra e muito fica sem ser dito. Fiquemos no aguardo de outros momentos de nossa história contada e cantada pelo nosso cancioneiro.
Agradeço aqui a oportunidade do convívio com esses brasileiros especiais, como também a internet pela facilidade que nos proporciona.

Belford Roxo, 04 de abril de 2011-04-04

JOSÉ FLORIANO OLIVEIRA