A SOCIEDADE BRASILEIRA E A POESIA FALADA E CANTADA
Letras de música e fotos: Internet
Textos: José Floriano Oliveira
BRASIL COLÔNIA
O texto que segue não tem nada de original, visto que, em finais dos anos setenta do século passado, já escrevi outro, homenageando o Dia Internacional da Mulher com este formato. Retorno, com o formato, apresentando a sociedade brasileira através da música sem, no entanto, considerar como um trabalho concluído.
Na realidade, a caminhada que nos propomos apresentar passa muito mais pelos seus dissabores contada com ironia, muito das vezes, outras, como protesto, De qualquer forma, é a sociedade que está presente com todas suas mutações.
Erro de português Osvaldo de Andrade Quando o português chegou Debaixo duma bruta chuva Vestiu o índio Que pena! Fosse uma manhã de sol O índio tinha despido O português |
Certo dia, em finais do século XV, o Brasil foi descoberto. DESCOBERTO? Falha nossa, ou é assim que os compêndios oficiais grafam a História do Brasil para os nossos alunos, ou melhor, para nossos filhos. Absurdo?
Caminhemos com nossos poetas:
Invadido o Brasil, sem resistência, vem os homens de vestes negras, que não conseguem ficar distante do Poder, fincam uma cruz e pregam a primeira cerimônia religiosa do homem branco, para, depois, escravizá-lo e Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro assim cantou:
Canto das Três Raças
Compositor: Mauro Duarte / Paulo César Pinheiro
Ninguém ouviu
Um soluçar de dor no canto do Brasil
Um lamento triste sempre ecoou
Desde que o ÍNDIO guerreiro foi pro cativeiro e de lá cantou
NEGRO entoou
Um canto de revolta pelos ares
Do Quilombo dos Palmares
Onde se refugiou
Um soluçar de dor no canto do Brasil
Um lamento triste sempre ecoou
Desde que o ÍNDIO guerreiro foi pro cativeiro e de lá cantou
NEGRO entoou
Um canto de revolta pelos ares
Do Quilombo dos Palmares
Onde se refugiou
Fora a luta dos INCONFIDENTES
Pela quebra das correntes, nada adiantou
E de guerra em paz, de pazem guerra
Todo povo dessa terra quando pode cantar
Canta de dor
E ecoa noite e dia
É ensurdecedor
Ai, mas que agonia
O canto do trabalhador
Esse canto que devia ser um canto de alegria
Soa apenas como um soluçar de dor
Pela quebra das correntes, nada adiantou
E de guerra em paz, de paz
Todo
Canta de dor
E ecoa noite e dia
É ensurdecedor
Ai, mas que agonia
O canto do trabalhador
Esse canto que devia ser um canto de alegria
Soa apenas como um soluçar de dor
Candeia, grande compositor, escreve Dia de Graça e homenageia o carnaval, a mulata e lembra ao negro que, o ser escravo não privilégio seu. Portanto, esqueça a idéia preconceituosa de que ser negro é ser menor:
DIA DE GRAÇA
Candeia
Hoje é manhã de carnaval (ao esplendor)
As escolas vão desfilar (garbosamente)
Aquela gente de cor com a imponência de um rei, vai
As escolas vão desfilar (garbosamente)
Aquela gente de cor com a imponência de um rei, vai
pisar na passarela (salve a Portela)
Vamos esquecer os desenganos (que passamos)
Viver alegria que sonhamos (durante o ano)
Damos o nosso coração, alegria e amor a todos sem distinção de cor
Mas depois da ilusão, coitado
Negro volta ao humilde barracão
Negro acorda é hora de acordar
Não negue a raça
Torne toda manhã dia de graça
Negro não humilhe nem se humilhe a ninguém
Todas as raças já foram escravas também
E deixa de ser rei só na folia e faça da sua Maria uma rainha todos os dias
E cante o samba na universidade
E verás que seu filho será príncipe de verdade
Aí então jamais tu voltarás ao barracão
Vamos esquecer os desenganos (que passamos)
Viver alegria que sonhamos (durante o ano)
Damos o nosso coração, alegria e amor a todos sem distinção de cor
Mas depois da ilusão, coitado
Negro volta ao humilde barracão
Negro acorda é hora de acordar
Não negue a raça
Torne toda manhã dia de graça
Negro não humilhe nem se humilhe a ninguém
Todas as raças já foram escravas também
E deixa de ser rei só na folia e faça da sua Maria uma rainha todos os dias
E cante o samba na universidade
E verás que seu filho será príncipe de verdade
Aí então jamais tu voltarás ao barracão
No século XVI e XVII, a agroindústria açucareira já se encontrava estabelecida e motivo de novas invasões pelas potências européias. Claro a mão-de-obra continuava a mesma, ou seja, escrava. João Antônio Andreoni (André João Antonil – jesuíta – através do livro “Cultura e Opulência do Brasil” – 1711) viveu no Brasil de 1681 a 1716 quando veio a falecer em Salvador. Em sua obra relata as relações político-econômico-sociais do Brasil colonial assim se referia:
“Os escravos são as mãos e os pés do senhor de engenho, porque sem eles no Brasil não é possível fazer, conservar e aumentar fazenda, nem ter engenho corrente”.
Mais adiante, continua:
“No Brasil costumam dizer que para o escravo são necessários três PPP, a saber: Pau, Pão e Pano. Pau, para os castigos; pão para a alimentação e Pano, para cobrir suas vergonhas”.
Tendo sido o principal centro da produção de açúcar, Pernambuco foi motivo de invasões e ambição do controle estrangeiro. No caso holandês (João Maurício de Nassau) dominou o nordeste de 1630 a 1654, deixando sua cultura nos melhoramentos da região e foi motivo de enredo da Escola de Samba Império Serrano que assim cantava
BRASIL HOLANDÊS
HOMENAGEM A MAURICIO DE NASSAU
(Mano Décio, Abílio Martins e Chocolate)
Lá, lá, rá, lá, rá, rá, rá
Pernambuco teve a glória
Divulgando na história
Do Brasil colonial
O governo altaneiro
Para o solo brasileiro
Pernambuco teve a glória
Divulgando na história
Do Brasil colonial
O governo altaneiro
Para o solo brasileiro
Culto, sereno e jovial
Deu assistência social
De João Maurício de Nassau
O progresso foi marcado
Deu assistência social
De João Maurício de Nassau
O progresso foi marcado
E por ele foi deixado
Na expansão comercial
Como governador
Conseguiu incrementar
A produção nacional
Foi Maurício de Nassau
Que desenvolveu o Brasil
Na indústria açucareira
E o transporte da nossa madeira
João Maurício de Nassau
Ao grande Brasil colonia
Nas lutas pela reconquista do território dominado pelos holandeses, não só portugueses (branco) tiveram participação. Negros, amarelos (índios), mulatos, mamelucos, cafusos, todos se envolveram nas lutas. A fuga de escravos devemos entender como ato natural. No entanto, é nesse momento que o desejo de liberdade aumenta. A canção a seguir apresenta as origens e caminhada desse povo que muito contribuiu para nossa formação. Vejamos:
AO POVO EM FORMA DE ARTE - QUILOMBO
Composição : Wilson Moreira - Nei Lopes
Quilombo pesquisou suas raízes
E os momentos mais felizes
De uma raça singular
E veio pra mostrar essa pesquisa
Na ocasião precisa
Em forma de arte popular
E os momentos mais felizes
De uma raça singular
E veio pra mostrar essa pesquisa
Na ocasião precisa
Em forma de arte popular
Há mais de quarenta mil anos atrás
A arte negra já resplandecia
Mais tarde a Etiópia milenar
Sua cultura até o Egito estendia
Daí o legendário mundo grego
A todo negro de "etiope" chamou
Depois vieram reinos suntuosos
De nível cultural superior
Que hoje são lembranças de um passado
Que a força da ambição exterminou
A arte negra já resplandecia
Mais tarde a Etiópia milenar
Sua cultura até o Egito estendia
Daí o legendário mundo grego
A todo negro de "etiope" chamou
Depois vieram reinos suntuosos
De nível cultural superior
Que hoje são lembranças de um passado
Que a força da ambição exterminou
Em toda a cultura nacional
Na arte e até mesmo na ciência
O modo africano de viver
Exerceu grande influência
E o negro brasileiro
Apesar de tempos infelizes
Lutou, viveu, morreu e se integrou
Sem abandonar suas raízes
Por isso o Quilombo desfila
Devolvendo em seu estandarte
A história de suas origens
Ao povo em forma de arte
Na arte e até mesmo na ciência
O modo africano de viver
Exerceu grande influência
E o negro brasileiro
Apesar de tempos infelizes
Lutou, viveu, morreu e se integrou
Sem abandonar suas raízes
Por isso o Quilombo desfila
Devolvendo em seu estandarte
A história de suas origens
Ao povo em forma de arte
QUILOMBO DOS PALMARES
Noel Rosa de Oliveira e Anescar Rodrigues
Noel Rosa de Oliveira e Anescar Rodrigues
No tempo em que o Brasil ainda era
Um simples país colonial,
Pernambuco foi palco da história
Que apresentamos neste carnaval.
Com a invasão dos holandeses
Os escravos fugiram da opressão
E do julgo dos portugueses.
Esses revoltosos
Ansiosos pela liberdade
Nos arraiais dos Palmares
Buscavam a tranqüilidade.
Ô-ô-ô-ô-ô-ô
Ô-ô, ô-ô, ô-ô.
Surgiu nessa história um protetor.
Um simples país colonial,
Pernambuco foi palco da história
Que apresentamos neste carnaval.
Com a invasão dos holandeses
Os escravos fugiram da opressão
E do julgo dos portugueses.
Esses revoltosos
Ansiosos pela liberdade
Nos arraiais dos Palmares
Buscavam a tranqüilidade.
Ô-ô-ô-ô-ô-ô
Ô-ô, ô-ô, ô-ô.
Surgiu nessa história um protetor.
Zumbi, o divino imperador,
Resistiu com seus guerreiros em sua tróia,
Muitos anos, ao furor dos opressores,
Ao qual os negros refugiados
Rendiam respeito e louvor.
Quarenta e oito anos depois
De luta e glória,
Terminou o conflito dos Palmares,
E lá no alto da serra,
Contemplando a sua terra,
Viu em chamas a sua tróia,
E num lance impressionante
Zumbi no seu orgulho se precipitou
Lá do alto da Serra do Gigante.
Meu maracatu
É da coroa imperial.
VIDA E OBRA DE ALEIJADINHO
Juca, Duduca e Bala
Foi genial,
Realizou
Maravilhas sem igual
E de real valor,
Incomparável na escultura nacional,
Empolgando o nosso Brasil colonial.
Ô-ô-ô-ô-ô-ô-ô-ô-ô-ô-ô
Antônio Francisco Lisboa,
Aleijadinho,
O imortal,
Ultrapassou a sua dor
Com a arte escultural.
Foi o marco inicial da escultura nacional
Projetando o Brasil
No conceito mundial.
Este grande brasileiro,
De rude formação,
Legou ao Brasil e ao mundo inteiro
O barroco brasileiro,
Nas cidades de Congonhas, Vila Rica, Sabará
E outras mais.
Lá-lá-lá-lá, lá-lá-lá-lá, lá-lá-lá
Revivemos a época
Deste filho de Minas Gerais
Realizou
Maravilhas sem igual
E de real valor,
Incomparável na escultura nacional,
Empolgando o nosso Brasil colonial.
Ô-ô-ô-ô-ô-ô-ô-ô-ô-ô-ô
Antônio Francisco Lisboa,
Aleijadinho,
O imortal,
Ultrapassou a sua dor
Com a arte escultural.
Foi o marco inicial da escultura nacional
Projetando o Brasil
No conceito mundial.
Este grande brasileiro,
De rude formação,
Legou ao Brasil e ao mundo inteiro
O barroco brasileiro,
Nas cidades de Congonhas, Vila Rica, Sabará
E outras mais.
Lá-lá-lá-lá, lá-lá-lá-lá, lá-lá-lá
Revivemos a época
Deste filho de Minas Gerais
TRECHO DA PEÇA ESCUTA ZÉ Texto e roteiro de Marilena Ansaldi) Não sei por que sou negra. Não sei por que, você é branco. Nem você, aposto! Mas, dessa diferença e da nossa ignorância – Nascem mais desgraças que felicidade. Há todo um desequilíbrio Em si mesmo, nascido dessas raízes. Para seu bem estar, Fui trazida, séculos atrás, pro seu país. Para sua maior riqueza, Meu estado de escravidão declarada Passou a liberdade sem qualquer Infra-instrutora Que me deixasse entrever Suas boas intenções ou sentimento humanitário. . | Para sua satisfação, Ponho sua mesa e sou posta em sua cama Para seu sossego, Sou mantida num baixo nível educacional, Em conseqüência do econômico, E assim vai, num eterno vice-versa. Para sua pesquisa, Sou vista como elemento novo, Capaz de te possibilitar o reencontro da natureza perdida, De desatar-te as amarras que você construiu. Para sua tranqüilidade espiritual, Sou sempre tratada com a benevolência Que veste os superiores. (Trecho da fala de Zenaide na peça “Escuta Zé” |
Abaixo podemos cantar o Samba Enredo XICA DA SILVA composto por Noel rosa de Oliveira e Anescarzinho para o Salgueiro em 1963 que traduz a riqueza da Região das Minas Gerais.
XICA DA SILVA
Noel Rosa de Oliveira e Anescarzinho
Noel Rosa de Oliveira e Anescarzinho
Apesar
De não possuir grande beleza
Xica da Silva
Surgiu no seio
Da mais alta nobreza.
O contratador
João Fernandes de Oliveira
A comprou
Para ser a sua companheira.
E a mulata que era escrava
Sentiu forte transformação,
Trocando o gemido da senzala
Pela fidalguia do salão.
Com a influência e o poder do seu amor,
Que superou
A barreira da cor,
Francisca da Silva
Do cativeiro zombou ôôôôô
ôôô, ôô, ôô.
No Arraial do Tijuco,
Lá no Estado de Minas,
Hoje lendária cidade,
Seu lindo nome é Diamantina,
Onde nasceu a Xica que manda,
Deslumbrando a sociedade,
Com o orgulho e o capricho da mulata,
Importante, majestosa e invejada.
Para que a vida lhe tornasse mais bela,
João Fernandes de Oliveira
Mandou construir
Um vasto lago e uma belíssima galera
E uma riquíssima liteira
Para conduzi-la
Quando ela ia assistir
À missa na capela
De não possuir grande beleza
Xica da Silva
Surgiu no seio
Da mais alta nobreza.
O contratador
João Fernandes de Oliveira
A comprou
Para ser a sua companheira.
E a mulata que era escrava
Sentiu forte transformação,
Trocando o gemido da senzala
Pela fidalguia do salão.
Com a influência e o poder do seu amor,
Que superou
A barreira da cor,
Francisca da Silva
Do cativeiro zombou ôôôôô
ôôô, ôô, ôô.
No Arraial do Tijuco,
Lá no Estado de Minas,
Hoje lendária cidade,
Seu lindo nome é Diamantina,
Onde nasceu a Xica que manda,
Deslumbrando a sociedade,
Com o orgulho e o capricho da mulata,
Importante, majestosa e invejada.
Para que a vida lhe tornasse mais bela,
João Fernandes de Oliveira
Mandou construir
Um vasto lago e uma belíssima galera
E uma riquíssima liteira
Para conduzi-la
Quando ela ia assistir
À missa na capela
BRASIL IMPÉRIO
Fugindo de Portugal das forças Napoleônicas, D. João VI e toda a Corte Portuguesa, chega ao Brasil em 1808. Para suprir as necessidades da Sede do reino, tornou-se impressindível a criação de infraestrutura para atender a burocracia do governo. Como a nobreza aqui se encontrava, acostumada ao luxo, o lazer, o nada fazer, atendimento à saúde etc., foi construído teatros, parques, escolas etc. Assim, a colônia que não gosava de nenhum privilégio, passou a ter como diz o samba do Império Serrano.
Império Serrano - Samba Enredo 1957
DOM JOÃO VI
Foi D. João VI
O precursor da nossa Independência
Belo histórico texto
Esse monarca deixou
Livres todos os portos
E o comércio do Brasil
E outros atos importantes
Que o imortalizara
O precursor da nossa Independência
Belo histórico texto
Esse monarca deixou
Livres todos os portos
E o comércio do Brasil
E outros atos importantes
Que o imortalizara
Em serviços relevantes
Esse vulto imortal
Ao regressar a Portugal
Ao regressar a Portugal
Disse ao seu povo
Oh, que terra hospitaleira
É aquela nação brasileira
Felicidades perenes eu gozei
Ali eu fui feliz
Ali eu fui um rei.
É aquela nação brasileira
Felicidades perenes eu gozei
Ali eu fui feliz
Ali eu fui um rei.
Na segunda metade do século XIX, o Beasil já dera início a sua industrialização ainda que insipiente. É nessa época que o Brasil se envolve em guerra com o Paraguai. Os militares brasileiros pouca experiência tinha guerras. Seus confrontos, até então, haviam sido internos considerados mais como de pacificação. Assim sem endo, é na prática seu grande aprendizado, levando a muitos deles se destacarem como canta o Império Serrano.
IMPÉRIO SERRANO
SAMBA ENREDO 1960
MEDALHAS E BRASÕES
Esta brilhante página
Da nossa história militar
É um lindo cenário de ilustrações
Que glorificaram os nossos rincões
Onde desfilaram
Medalhas e brasões
Que glorificaram
Seus filhos varonis
São fatos da nossa história
Que deram glórias ao nosso país
Da nossa história militar
É um lindo cenário de ilustrações
Que glorificaram os nossos rincões
Onde desfilaram
Medalhas e brasões
Que glorificaram
Seus filhos varonis
São fatos da nossa história
Que deram glórias ao nosso país
A coragem de Caxias
O Exército glorificou
A bravura de Marcílio Dias
A Marinha consagrou
Num predomínio de fé
Exaltamos Barroso
E o bravo Tamandaré
O Exército glorificou
A bravura de Marcílio Dias
A Marinha consagrou
Num predomínio de fé
Exaltamos Barroso
E o bravo Tamandaré
Ao finalizar essa história
Narramos as batalhas meritórias
Curuzu, Riachuelo e Paissandu
Tiveram muita expressividade
Em suas vitórias
Sua Majestade
Nosso querido imperador
Orgulhosamente
Nossos heróis condecorou
Lá lá lá lá
Brasil, ó meu querido Brasil
Narramos as batalhas meritórias
Curuzu, Riachuelo e Paissandu
Tiveram muita expressividade
Em suas vitórias
Sua Majestade
Nosso querido imperador
Orgulhosamente
Nossos heróis condecorou
Lá lá lá lá
Brasil, ó meu querido Brasil
Apesar da insípida estrutura industrial, o Brasil ainda era agrário. A Europa e Estados Unidos já competiam pelo controle dos mercados e fontes de matéria prima mundiais. A Inglaterra, a mais prejudicada com a competição entende que o melhor caminho seria extinguir com a escravidão mundo, visto que, os ex-escravos se transformariam em consumidores. Esse momento assim foi visto por Castro Alves em seu antológico poema, Navio Negreiro
NAVIO NEGREIRO
Castro Alves (trechos)
Era um sonho dantesco... O tombadilho
Que das luzenas avermelha o brilho,
Em sangue a se banhar,
Tinir de ferros...estalar do açoite...
Legiões de homens como a noite,
Horrendos a dançar...(...)
Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura... se é verdade
Tanto horror perante os céus... (...)
Existe um povo que sua bandeira empresta
Para encobrir tanta infâmia e covardia... (...)
Auriverde pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra
E as promessas divinas da esperança...
Tu, que da liberdade após a guerra
Foste hasteada dos heróis na lança,
Antes te houvesse roto na batalha
Que servires a povo de mortalha!...
NAVIO NEGREIRO
Djalma Sabiá e Amado Régis
Djalma Sabiá e Amado Régis
Apresentamos
Páginas e memórias
Que deram louvor e glórias
Ao altruísta e defensor
Tenaz da gente de cor
Castro Alves, que também se inspirou
E em versos retratou
O navio onde os negros
Amontoados e acorrentados
Em cativeiro no porão da embarcação,
Com a alma em farrapo de tanto mau trato
Vinham para a escravidão.
Ô-ô-ô-ô-ô.
No navio negreiro
O negro veio pro cativeiro.
Finalmente uma lei
O tráfico aboliu,
Vieram outras leis,
E a escravidão extinguiu,
A liberdade surgiu
Como o poeta previu.
Ô-ô-ô-ô-ô.
Acabou-se o navio negreiro,
Páginas e memórias
Que deram louvor e glórias
Ao altruísta e defensor
Tenaz da gente de cor
Castro Alves, que também se inspirou
E em versos retratou
O navio onde os negros
Amontoados e acorrentados
Em cativeiro no porão da embarcação,
Com a alma em farrapo de tanto mau trato
Vinham para a escravidão.
Ô-ô-ô-ô-ô.
No navio negreiro
O negro veio pro cativeiro.
Finalmente uma lei
O tráfico aboliu,
Vieram outras leis,
E a escravidão extinguiu,
A liberdade surgiu
Como o poeta previu.
Ô-ô-ô-ô-ô.
Acabou-se o navio negreiro,
Não há mais cativeir
Fernandes, Florestan em seu livro “O Negro no Mundo dos Brancos”, descaracteriza o termo de “Democracia Racial” no Brasil como sendo um “mito”. O que temos, na realidade é uma “Tolerância Racial”. O preconceito que até hoje ainda se verifica é fácil de ser constatadoatravés dos provérbios populares:
“Negro não nasce, aparece”.
“Negro não casa, ajunta”.
“Negro não dorme, cochila”.
“Negro não bebe água, engole pinga”.
“Negro não vive, vegeta”.
“Negro não fala, resmunga”.
“Branco nasceu para o mando
O negro para trabalhar
Quando negro não trabalha
De branco deve apanhar”.
Era nove de novembro. A homenagem a Esquadra Chilena seria um baile na Ilha Fiscal conhecida inicialmente como Ilha dos Ratos que se transformara no Último Baile da Corte Imperial do Brasil.
Assim se deu a despedida do Imperador que governou o Brasil durante 49 anos. Seis dias mais tarde a República foi proclamada e a família imperial retornou a Portugal. Assim Silas de Oliveira e Valdir Medeiros cantou:
O Último Baile da Côrte Imperial
Composição : Silas de Oliveira e Waldir Medeiros
Foi o último baile
Do Brasil Imperial
Foi realizado
Na antiga Ilha Fiscal
Os ilustres visitantes homenageados
Partiram para o seu país distante
Com êxito brilhante, emocionados
Sua Majestade o Imperador
Ao lado da Imperatriz
Diante de tanto esplendor
Sentia-se alegre e feliz
Jamais acreditaria
Que o seu reinado terminaria
E mesmo a Corte não pensando assim
A monarquia chegava ao fim
Do Brasil Imperial
Foi realizado
Na antiga Ilha Fiscal
Os ilustres visitantes homenageados
Partiram para o seu país distante
Com êxito brilhante, emocionados
Sua Majestade o Imperador
Ao lado da Imperatriz
Diante de tanto esplendor
Sentia-se alegre e feliz
Jamais acreditaria
Que o seu reinado terminaria
E mesmo a Corte não pensando assim
A monarquia chegava ao fim
O BRASIL REPÚBLICA
POEMA DE JOSÉ PAULO PAES
Vamos passear na floresta
Enquanto dom Pedro não vem.
Dom Pedro é um rei filósofo,
Que não faz mal a ninguém.
Vamos sair a cavalo,
Pacíficos, desarmados:
A ordem acima de tudo,
Como convém a um soldado.
Vamos fazer a República
Sem barulho, sem litígio,
Sem nenhuma guilhotina,
Sem qualquer barrete frigio.
Vamos com farda de gala,
Proclamar os tempos novos,
Mas cautelosos, furtivos,
Para não acordar o povo
No final do século XIX e início do século XX o Brasil tinha a quarta frota naval do mundo grande reduto da nobreza. No entanto, a situação dos marinheiros era o pior possível devido praticar uma disciplina opressora, esquecendo-se que foram com que lutaram lado-a-lado durante a Guerra do Paraguai. As punições eram violentas sendo utilizada a CHIBATA e o soldo, se é que assim poder-se-ia chamar, era simplesmente vergonhoso. Além disso, os marinheiros desejavam ter melhor acesso aos estudos o qual continuava sendo privilégio da oficialidade. João Bosco e Aldir Blanc assim registraram.
O Mestre-Sala dos Mares
João Bosco e Aldir Blanc
Há muito tempo nas águas da Guanabara
O dragão do mar apareceu
Na figura de um bravo marinheiro
A quem a história não esqueceu
Conhecido como almirante negro
Tinha a dignidade de um mestre-sala
E ao acenar pelo mar, na alegria das regatas
Foi saudado no porto
Pelas mocinhas francesas
Jovens polacas e por batalhões de mulatas
Rubras cascatas
Jorravam das costas dos negros
Entre cantos e chibatas
Há muito tempo nas águas da Guanabara
O dragão do mar apareceu
Na figura de um bravo marinheiro
A quem a história não esqueceu
Conhecido como almirante negro
Tinha a dignidade de um mestre-sala
E ao acenar pelo mar, na alegria das regatas
Foi saudado no porto
Pelas mocinhas francesas
Jovens polacas e por batalhões de mulatas
Rubras cascatas
Jorravam das costas dos negros
Entre cantos e chibatas
Inundando o coração
Do pessoal do porão
Que a exemplo do marinheiro gritava, então:
Glória aos piratas, às mulatas, às sereias,
Glória à farofa, à cachaça, às baleias,
Glória a todas as lutas inglórias
Que através da nossa história
Não esqueceram jamais.........
Salve o almirante negro
Que tem por monumento
As pedras pisadas do cais
(Mas, salve...)
Salve o almirante negro
Que tem por monumento
As pedras pisadas do cais
Do pessoal do porão
Que a exemplo do marinheiro gritava, então:
Glória aos piratas, às mulatas, às sereias,
Glória à farofa, à cachaça, às baleias,
Glória a todas as lutas inglórias
Que através da nossa história
Não esqueceram jamais.........
Salve o almirante negro
Que tem por monumento
As pedras pisadas do cais
(Mas, salve...)
Salve o almirante negro
Que tem por monumento
As pedras pisadas do cais
No Nordeste, ao final do século XIX surge a figura de Antônio Mendes de Maciel, “Antônio Conselheiro”, grande protagonista de Canudos. Antônio Conselheiro vivia fazendo pregações místicas, insurgindo-se contra algumas reformas da Igreja Católica.
Os Sertões (1976) Composição : Edeor de Paula Marcado pela própria natureza O Nordeste do meu Brasil Oh! solitário sertão De sofrimento e solidão A terra é seca Mal se pode cultivar Morrem as plantas e foge o ar A vida é triste nesse lugar Sertanejo é forte Supera miséria sem fim | Sertanejo homem forte (bis) Dizia o Poeta assim Foi no século passado No interior da Bahia O Homem revoltado com a sorte do mundo em que vivia Ocultou-se no sertão espalhando a rebeldia Se revoltando contra a lei Que a sociedade oferecia Os Jagunços lutaram Até o final Defendendo Canudos (bis) Naquela guerra fatal |
A SEMANA DA ARTE MODERNA
Ocorreu em são Paulo nos dias 13, 15 e 17 do ano de 1922, no Teatro Municipal, representou uma verdadeira renovação na linguagem, na busca de experimentação, na liberdade de criação e ruptura com o passado e mesmo corporal artísticos, com o modernismo
Alguns destaques consagrados do modernismo brasileiro: Mário de Andrade, Oswaldo de Andrade, Victor Brecheret, Anita Malfatti, Menotti Del Pichia, Heitor Villa-Lobos, Tarsila do Amaral, Di Cavalcanti. Rubens Borba de Moraes não participou por estar acamado.
Porém, o momento mais sensacional da Semana ocorre na segunda noite, quando Ronald de Carvalho lê um poema de Manuel Bandeira, o qual não comparecera ao teatro por motivos de saúde: Os sapos. Trata-se de uma ironia corrosiva aos parnasianos, que ainda dominavam o gosto do público. Este reage através de vaias, gritos, patadas, interrompendo a sessão. Mas, metaforicamente, com sua iconoclastia pesada, o poema delimita o fim de uma época cultural:
ENFUNANDO SAPOS
Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.
Em ronco que aterra,
Berra o sapo-boi:
'- Meu pai foi à guerra
- Não foi! - Foi! - Não foi!'
O sapo-tanoeiro
Parnasiano aguado
Diz: - 'Meu cancioneiro
É bem martelado*.'
Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos.
O meu verso é bom
Frumento* sem joio.
Faço rimas com
Consoantes de apoio.
Vai por cinqüenta anos
Que lhe dei a norma:
Reduzi sem danos
A formas a forma. Clame a sapataria
Em críticas céticas:
'Não há mais poesia,
Mas há artes poéticas...'
Brada de um assomo
O sapo-tanoeiro:
'A grande arte é como
Lavor de Joalheiro'
Urra o sapo-boi:
'- Meu pai foi rei - Foi!
- Não foi! - Foi! - não foi!'
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.
Em ronco que aterra,
Berra o sapo-boi:
'- Meu pai foi à guerra
- Não foi! - Foi! - Não foi!'
O sapo-tanoeiro
Parnasiano aguado
Diz: - 'Meu cancioneiro
É bem martelado*.'
Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos.
O meu verso é bom
Frumento* sem joio.
Faço rimas com
Consoantes de apoio.
Vai por cinqüenta anos
Que lhe dei a norma:
Reduzi sem danos
A formas a forma. Clame a sapataria
Em críticas céticas:
'Não há mais poesia,
Mas há artes poéticas...'
Brada de um assomo
O sapo-tanoeiro:
'A grande arte é como
Lavor de Joalheiro'
Urra o sapo-boi:
'- Meu pai foi rei - Foi!
- Não foi! - Foi! - não foi!'
GETÚLIO VARGAS E O PODER
A Revolução de 1930, com o Slogan de liberal, levou o Senhor Getúlio Vargas ao Poder, derrotando o CORONELISMO, ou seja, o controle dos fazendeiros do café e do leite que comandaram a política do Brasil na chamada República Velha. Era a vitória do meio urbano. Tem início as reformas político-institucionais para garantir o novo tempo. Por não haver um conjunto de lei específicas para o trabalho assalariado, o Senhor Getúlio, por Decretos-Leis tratou de implementá-las, a tal ponto, que ficou conhecido como o Pai do Trabalhador,ou Pai dos Pobres. Os nossos poetas de plantão assim registraram seu longo período de governo de 15 anos.
PERGUNTAS DE UM TRABALHADOR QUE LÊ
Bertolt Brecht
Quem construiu a Tebas das Sete Portas?
Nos livros constam nomes de reis.
Arrastaram eles os blocos de pedra?
E a Babilônia várias vezes destruída?
Quem a reconstruiu tantas vezes? Em que casas
Da Lima dourada moravam os operários?
Para onde foram os pedreiros, na noite em que
A Muralha da China ficou pronta?
A grande Roma está cheia de Arcos do Triunfo.
Quem os ergueu? Sobre quem triunfaram os Césares?
A decantada Bizâncio
Tinha somente palácios para seus habitantes?
Mesmo na lendária Atlântida
Os que se afogaram gritaram por seus escravos
Na noite em que o mar os tragou
O jovem Alexandre conquistou a Índia.
Sozinho?
Cesar derrotou os gauleses.
Não levava sequer um cozinheiro?
Felipe da Espanha chorou, quando sua Armada
Naufragou. Ninguém mais chorou?
Frederico II venceu a Guerra dos Sete Anos.
Quem venceu além dele?
Cada página uma vitória.
Quem cozinhava o banquete?
A cada dez anos um grande homem.
Quem pagava a conta?
Tantas histórias
O ANALFABETO POLÍTICO Bertolt Brecht O pior analfabeto É o analfabeto político, Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas. | . O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e o lacaio das empresas nacionais e multinacionais. |
CONSTRUÍSMO J. Floriano Oliveira A maior virtude do homem É saber ouvir, já dizia Sidarta. Para Bertolt Brecht o pior sindicalista É aquele que não fala e não quer ouvir Sindicato é uma associação Em defesa dos interesses comuns Sindicalismo é doutrina que congrega, Preconiza, defende a política sindical. Sindicalista é o militante doutrinário. Sindicato não é emprego Sindicato não é negócio Sindicato não é meio-de-vida Sindicato não é o “Eu” | Sindicato se conjuga o “Nós” Sindicato não é singular Sindicato é plural Sindicato é categoria Sindicato não é indivíduo Sindicato é luta Sindicato é presente Sindicato é vida Sindicato é amalgamar Sindicato é construção Na construção do “Eu” sindicato Não se constrói o “Eu” indivíduo Não existe obscurantismo Muito menos narcisismo E na linha do “ISMO” Não cabe “EGO-ISMO” Sindicato, portanto, é SOCIAL-ISMO |
Quem trabalha é que tem razão
Eu digo e não tenho medo de errar
O bonde São Januário
Leva mais um operário:
Sou eu que vou trabalhar
Eu digo e não tenho medo de errar
O bonde São Januário
Leva mais um operário:
Sou eu que vou trabalhar
Em outubro de 1945, os chefes militares exigiram a renúncia de Getúlio Vargas que foi aceita. De volta ao Poder constitucionalmente em 1950, após o governo Dutra, sua campanha assim foi conduzida:
Bota o retrato do velho outra vez
Bota no mesmo lugar
O sorriso do velhinho
Faz a gente trabalhar
(música de campanha de Vargas)
A aceleração da industrialização foi uma das grandes metas do governo JK, justificando o “slogan” “50 anos em 5” . Montou-se um tripé, formado pelo empresariado nacional, investidores estrangeiros e o governo federal. O outro lado era criar a capital do Brasil no interior e, para tanto, ter-se-ia que abrir estradas, desenvolver a indústria automobilística e, principalmente, criar empregos
O seu “Plano de Metas” tinha como prioridades eram os setores industriais básicos e a educação. Claro que os grandes investimentos aceleraram a inflação afetando, principalmente as camadas mais populares, contornadas pela euforia existente. Assim o cancioneiro popular grafou o momento:
CIDADÃO(Lúcio Barbosa)Ta vendo aquele edificio moco, ajudei a levantar. | Minha filha inocente, vem pra mim toda contente: Pai vou me matricular, Mas me chega um cidadao : Crianca de pe no chao , aqui nao pode estudar. Essa dor doeu mais forte, por que que eu deixei o norte , eu me pus a me dizer, la a seca castigava mas do pouco que eu plantava, tinha direito a comer. Ta vendo aquela igreja moco , onde o padre diz amen. Pus o sino e o badalo ,enchi minha mao de calo, la eu trabalhei tambem. La sim valeu a pena tem quermese tem novena e o padre me deixa entra, foi la que Cristo me disse: rapaz deixe de tolice, nao se deixe amendrotar. (Refrao) 2 vezes Fui eu que criou a terra, anchi o rio, fiz a serra , nao deixei nada faltar, Hoje o homen criou asa e na maioria das casas eu tambem nao posso entrar. |
Ironizando o presidente Juscelino Juca chaves com suas sátiras musicais, Juca Chaves critica os excessos de despesas, suas viagens da Velhacap (Rio de Janeiro) para gerenciar as obras da Novacap (Brasília). São sátiras saudáveis, que na realidade se resume na Bossa Nova (estilo) de governar.
PRESIDENTE BOSSA NOVA Bossa nova mesmo é ser presidente Desta terra descoberta por Cabral Para tanto basta ser tão simplesmente Simpático, risonho, original Depois, desfrutar da maravilha De ser o presidente do Brasil Voar da “Velhacap” (Rio de Janeiro} pra Brasília Ver Alvorada e voar de volta ao Rio. Voar, voar, voar, Voar, voar, pra bem distante | Até Versalhes, onde duas mineirinhas Valsinhas, dançam como debutantes Interessante. Mandar parente a jato pro dentista, Almoçar com tenista campeão Também pode ser um bom artista Exclusivista. Tomando, com Dilermando, umas aulinhas de violão. Isso é viver como se aprova É ser um presidente bossa nova Bossa nova. Muito nova. Nova mesmo. Ultranova |
O GOLPE MILITAR
O que aparentemente o Brasil voltaria à normalidade democrática com as eleições de Eurico Gaspar Dutra e Juscelino Kubitschek de Oliveira, o novo presidente, Jânio da Silva Quadros após alguns meses de governo renuncia, levando o país a uma crise político institucional de gravidade incomensurável.
Assim é que a 31 de março de 1964, os militares unidos a alguns políticos promovem o Golpe de Estado que durará vinte anos.
Ao assumir o governo com a deposição de João Goulart, foi instalada uma Junta Militar e no dia 9 de abril desse mesmo ano, decretou o Ato Institucional no 1 (AI-1).
Nesse curto período de governo, Castelo Branco editou a o Ato Institucional no2, que extinguiu os partidos políticos,
Ainda nesse mesmo ano, foi editado o Ato Institucional no3 (AI-3), estabelecendo eleições indiretas para governadores e a nomeação dos prefeitos de capitais. Em 1967, Castelo Branco, baixou a Lei de Segurança Nacional e a Lei de Imprensa, aumentando o controle do governo sobre os meios de comunicação.
Em março de 1968 reprimindo um ato dos estudantes, mata Édson Luis de Lima Souto no restaurante universitário Calabouço. A partir desse momento os ânimos se acirram, levando os estudantes a promoverem a PASSEATA DOS CEM MIL sob o comando do presidente da UNE, Luis Travassos.
Mais uma vez entra em cena os plantonistas: escritores poetas, compositores, cronistas, a sociedade organizada (ABI,. OAB, CNBB, UNE, SINDICATOS etc. Dentre estes destaco aqui, Geraldo Vandré, Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gonzaguinha e tantos outros que direta ou veladamente contraíram para o restabelecimento da Democracia.
Chico Buarque é um compositor que dispensa comentários. Tenho certeza que há convenço. Em Apesar de Você, Chico critica o Golpe Militar, como também, o general Médici que tinha por ele, verdadeira ojeriza. Em sua composição, adverte aos militares que seu poder não é permanente, portanto, ao seu final, irá se arrepender de todas as injustiças cometidas.
APESAR DE VOCÊ Hoje você é quem manda Falou, tá falado Não tem discussão, não. A minha gente hoje anda Falando de lado e olhando pro chão Viu? Você que inventou esse Estado Inventou de inventar Toda escuridão Você que inventou o pecado Esqueceu-se de inventar o perdão (Coro) Apesar de você amanhã há de ser outro dia Eu pergunto a você onde vai se esconder Da enorme euforia? Como vai proibir Quando o galo insistir em cantar? | Água nova brotando E a gente se amando sem parar Quando chegar o momento Esse meu sofrimento Vou cobrar com juros. Juro! Todo esse amor reprimido, Esse grito contido, Esse samba no escuro Você que inventou a tristeza Ora tenha a fineza de "desinventar" Você vai pagar, e é dobrado, Cada lágrima rolada Nesse meu penar (Coro2) Apesar de você Amanhã há de ser outro dia. Ainda pago pra ver O jardim florescer Qual você não queria | Você vai se amargar Vendo o dia raiar Sem lhe pedir licença E eu avou morrer de rir E esse dia há de vir antes do que você pensa Apesar de você (Coro3) Apesar de você Amanhã há de ser outro dia Você vai ter que ver A manhã renascer E esbanjar poesia Como vai se explicar Vendo o céu clarear, de repente, Impunemente? Como vai abafar Nosso coro a cantar, Na sua frente. Apesar de você (Coro4) Apesar de você Amanhã há de ser outro dia. Você vai se dar mal, etc e tal, La, laiá, la laiá, la laiá?? |
Antes de tudo foi um revolucionário com suas composições. Enxergava a sociedade através de suas canções levando suas mensagens de protestos como a que citamos abaixo em relação aos governos militares que se instalara no Brasil. Participou dos festivais dos anos 60/70 sempre criticando a repressão e as perseguições. Nos anos 80 do século XX, com o retorno dos militares à caserna, Gonzaguinha se dedicou a canções românticas sem deixar a sensibilidade pelo comportamento social.
E VAMOS À LUTA Gonzaguinha Eu acredito é na rapaziada Que segue em frente e segura o rojão Eu ponho fé é na Fe da moçada Que não foge da fera, e segura o leão Eu vou à luta com essa juventude Que não foge da raia a troco de nada Eu vou no dessa mocidade Que não ta na saudade e constrói A manhã desejada | Aquele que sabe que é negro O coro da gente E segura à batida da vida o ano inteiro Aquele que o sufoco de um jogo tão duro E apesar dos pesares ainda se orgulha de ser brasileiro Aquele que sai da batalha Entra no botequim, pede uma cerva gelada E agita na mesa uma batucada Aquele que manda o pagode e sacode a poeira suada da luta e faz a brincadeira pois o resto é besteira e nós estamos pelai |
A produção musical de Caetano Veloso como quase a totalidade dos jovens compositores dos anos 60 (final), 70 e 80, do século XX, tem como temáticao romantismo, desaguando nos anos 70 encontra a veia da resistência contra o controle do poder por aqueles que o usurpou em 1964. em Podres Poderes , critica a onda militar que se abateu sobre a América Latina e, em especial, sobre o Brasil.
PODRES PODERES Enquanto os homens exercem Seus podres poderes Motos e fuscas avançam Os sinais vermelhos E perdem os verdes Somos uns boçais... Queria querer gritar Setecentas mil vezes Como são lindos Como são lindos os burgueses E os japoneses Mas tudo é muito mais... Será que nunca faremos Senão confirmar A incompetência Da América católica Que sempre precisará De ridículos tiranos Será, será, que será? Que será, que será? Será que esta Minha estúpida retórica Terá que soar Terá que se ouvir Por mais zil anos... Enquanto os homens exercem Seus podres poderes Índios e padres e bichas Negros e mulheres E adolescentes Fazem o carnaval... | Queria querer cantar Afinado com eles Silenciar Ao Ser indecente Mas tudo é muito mau... Ou então cada paisano E cada capataz Com sua burrice fará Jorrar sangue demais Nos pantanais, nas cidades Caatingas e nos gerais Será que apenas Os hermetismos pascoais E os tons, os mil tons Seus sons e seus dons geniais Nos salvam, nos salvarão Dessas trevas e nada mais... Enquanto os homens exercem Seus podres poderes Morrer e matar de fome De raiva e de sede São tantas vezes Gestos naturais... Eu quero aproximar O meu cantar vagabundo Daqueles que velam Pela alegria do mundo Indo e mais fundo Tins e bens e tais... Será que nunca faremos Senão confirmar Na incompetência Da América católica Que sempre precisará De ridículos tiranos | Será, será, que será? Que será, que será? Será que essa Minha estúpida retórica Terá que soar Terá que se ouvir Por mais zil anos... Ou então cada paisano E cada capataz Com sua burrice fará Jorrar sangue demais Nos pantanais, nas cidades Caatingas e nos gerais... Será que apenas Os hermetismos pascoais E os tons, os mil tons Seus sons e seus dons geniais Nos salvam, nos salvarão Dessas trevas e nada mais... Enquanto os homens Exercem seus podres poderes Morrer e matar de fome De raiva e de sede São tantas vezes Gestos naturais Eu quero aproximar O meu cantar vagabundo Daqueles que velam Pela alegria do mundo... Indo mais fundo Tins e bens e tais! Indo mais fundo Tins e bens e tais! Indo mais fundo Tins e bens e tais! |
Apesar de ter sido escrita durante a Segunda Guerra Mundial e a Ditadura de Vargas, a poesia de Drummond é uma atual representação do brasileiro que viveu nos anos da ditadura militar mais recente, resistindo e seguindo em frente mesmo quando os governantes militares atropelam a caminhada da democracia e das liberdades.
JOSÉ Carlos Drummond de Andrade E agora, José? A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou, e agora, José? e agora, você? você que é sem nome, que zomba dos outros, você que faz versos, que ama protesta, e agora, José? Está sem mulher, está sem discurso, está sem carinho, já não pode beber, já não pode fumar, cuspir já não pode, a noite esfriou, o dia não veio, o bonde não veio | o riso não veio, não veio a utopia e tudo acabou e tudo fugiu e tudo mofou, e agora, José? tudo acabou e tudo fugiu e tudo mofou, e agora, José? E agora, José? Sua doce palavra, seu instante de febre, sua gula e jejum, sua biblioteca, sua lavra de ouro, seu terno de vidro, sua incoerência, seu ódio - e agora? Com a chave na mão quer abrir a porta, não existe porta; quer morrer no mar, | mas o mar secou; quer ir para Minas, Minas não há mais. José, e agora? Se você gritasse, se você gemesse, se você tocasse a valsa vienense, se você dormisse, se você cansasse, se você morresse… Mas você não morre, você é duro, José! Sozinho no escuro qual bicho-do-mato, sem teogonia, sem parede nua para se encostar, sem cavalo preto que fuja a galope, você marcha, José! José, pra onde? |
A composição abaixo vem do tempo em que a opressão militar controla a sociedade em todos os sentidos de sua vida. Caetano Veloso não ficou ausente dos protestos a conjuntura instalada, e assim foi perseguido pela censura, preso e exilado juntamente com Gilberto Gil. A letra da música Alegria, Alegria é uma crítica ao governo, como também, a alienação do jovem que devido à censura adotavam conceitos culturais alienígenas, principalmente dos Estados Unidos, introduzidos no Brasil através da mídia.
Alegria, Alegria Caminhando contra o vento Sem lenço e sem documento No sol de quase dezembro Eu vou... O sol se reparte Espaçonaves Em cardinales bonitas Eu vou... Em caras de presidentes Em grandes beijos de amor Em dentes, pernas, bandeiras Bomba e Brigitte Bardot... | O sol nas bancas de revista Me enche de alegria e preguiça Quem lê tanta notícia Eu vou... Por entre fotos e nomes Os olhos cheios de cores O peito cheio de amores vãos Eu vou Por que não, por que não... Ela pensa E Sem lenço e sem documento, Eu vou... Eu tomo uma coca-cola Ela pensa E Eu vou... | Por entre fotos e nomes Sem livros e sem fuzil Sem fome, sem telefone No coração do Brasil... Ela nem sabe até pensei Em cantar na televisão O sol é tão bonito Eu vou... Sem lenço, sem documento Nada no bolso ou nas mãos Eu quero seguir vivendo, amor Eu vou... Por que não, por que não... Por que não, por que não... Por que não, por que não... Por que não, por que não... |
A ditadura militar marcou o povo brasileiro profundamente no que tange sua repressão. Esse período de chumbo como ficou denominado permitiu que o jovem tivesse condições de abrir seus caminhos lutando contra as adversidades.
Aprenderam, por exemplo, a não aguardar que os políticos de plantão fossem os responsáveis em colocar o Pão em sua Mesa. A luta pela liberdade é a luta diária. Entenderam que não se mendiga liberdade. Para se ter liberdade se na luta do dia-a-dia.
Essa é a grande mensagem de Geraldo Vandré em Pra Não Dizer Que Não Falei Flores. Aproveite, cantem com ele:
PRA NÃO DIZE QUE NÃO FALEI DAS FLORES Geraldo Vandré Caminhando e cantando E seguindo a canção Somos todos iguais Braços dados ou não Nas escolas, nas ruas Campos, construções Caminhando e cantando E seguindo a canção... Vem, vamos embora Que esperar não é saber Quem sabe faz a hora Não espera acontecer... Pelos campos há fome Em grandes plantações Pelas marchando | Ainda fazem da flor Seu mais lindo refrão E acreditam nas flores Vencendo o canhão Vem, vamos embora Que esperar não é saber Quem sabe faz a hora Não espera acontecer Há soldados armados Amados ou não Quase todos perdidos De armas na mão Nos quartéis lhes ensinam Uma antiga lição De morrer pela Pátria E viver sem razão... Vem, vamos embora Que esperar não é saber Quem sabe faz a hora Não espera acontecer | Nas escolas, nas ruas Campos, construções Somos todos soldados Armados ou não Caminhando e cantando E seguindo a canção Somos todos iguais Braços dados ou não... Os amores na mente As flores no chão A certeza na frente A história na mão Caminhando e cantando E seguindo a canção Aprendendo e ensinando Uma nova lição... Vem, vamos embora Que esperar não é saber Quem sabe faz a hora Não espera acontecer |
A mistura das etnias, a evolução de nosso idioma que partindo do grego chega até nós através do português que se mistura com nosso indígena e com os negros africanos contribuindo com seu falar dolente, romantizado, para, mais tarde, se amalgamar aos idiomas dos povos que imigraram para nossa terra. Desse caldeamento, o melhor exemplo, é o religioso que Martinho da Vila nos brinda.
A trajetória de Solano Trindade é marcada pela defesa dos direitos das camadas menos favorecidas. Como exemplo foi escolhida a poesia Trem Sujo da Leopoldina.
TREM SUJO DA LEOPOLDINA Solano Trindade Trem sujo da Leopoldina correndo, correndo parece dizer tem gente com fome tem gente com fome tem gente com fome Estação de Caxias de novo a correr de novo a dizer tem gente com fome tem gente com fome tem gente com fome Vigário Geral Lucas Cordovil Brás de Pina Penha Circular Olaria Ramos Bom Sucesso Carlos Chagas Triagem, Mauá | trem sujo da Leopoldina correndo, correndo parece dizer tem gente com fome tem gente com fome tem gente com fome Quantas caras tristes querendo chegar em algum destino em algum lugar Trem sujo da Leopoldina correndo, correndo parece dizer tem gente com fome tem gente com fome tem gente com fome Só nas estações quando vai parando lentamente começa a dizer se tem gente com fome dá de comer se tem gente com fome dá de comer se tem gente com fome dá de comer Mas o freio de ar todo autoritário |
A Aquarela do Brasil de Silas de Oliveira é um verdadeiro passeio pelas belezas do Brasil. Sua caravana percorre os pontos culturais de Norte a Sul, de Leste a Oeste. Fala de seu povo, do sincretismo religioso enaltecendo o cenário maravilhoso que é nosso país. Cantemos:
AQUARELA DO BRASIL(Silas De Oliveira)Vejam esta maravilha de cenário É um episódio relicário Que o artista num sonho genial Escolheu pra este carnaval E o asfalto como passarela Será a tela do Brasil em forma de aquarela Passeando pelas cercanias do Amazonas Conheci vastos seringais No Pará a ilha de Marajó E a velha cabana do Timbó. Caminhando ainda um pouco mais Deparei com lindos coqueirais Estava no Ceará, terra de Irapuã De Iracema e Tupã. Fiquei radiante de alegria Quando cheguei na Bahia | Bahia de Castro Alves,do acarajé. Das noites de magia do candomblé Depois de atravessar as matas do Ipu Assisti A Brasília tem o seu destaque Na arte,na Beleza e arquitetura Feitiço de garoa pela serra São Paulo engrandece a nossa terra Do leste por todo centro-oeste Tudo é belo e tem lindo matiz O Rio do samba e das batucadas Dos malandros e mulatas De requebros febris Brasil, Essas nossas verdes matas Cachoeiras e cascatas De colorido sutil E este lindo céu azul de anil Emolduram em aquarela o meu Brasil |
O poema de João Cabral de Mello Neto, Morte e vida Severina, contido em seu livro Poesias Completas em forma de narrativa, representa o sofrimento do retirante nordestino e sua luta por um pedaço de terra que se encontra em mãos do latifundiário.
Ainda jovem Chico Buarque de Holanda musicou um trecho que apresentamos a seguir:
O RETIRANTE EXPLICA AO LEITOR QUEM É E A QUE VAI — O meu nome é Severino, como não tenho outro de pia. Como há muitos Severinos, que é santo de romaria, deram então de me chamar Severino de Maria como há muitos Severinos com mães chamadas Maria, fiquei sendo o da Maria do finado Zacarias. Mais isso ainda diz pouco: há muitos na freguesia, por causa de um coronel que se chamou Zacarias e que foi o mais antigo senhor desta sesmaria. Como então dizer quem falo ora a Vossas Senhorias? | Vejamos: é o Severino da Maria do Zacarias, lá da serra da Costela, limites da Paraíba. Mas isso ainda diz pouco: se ao menos mais cinco havia com nome de Severino filhos de tantas Marias mulheres de outros tantos, já finados, Zacarias, vivendo na mesma serra magra e ossuda em que eu vivia. Somos muitos Severinos iguais em tudo na vida: na mesma cabeça grande que a custo é que se equilibra, no mesmo ventre crescido sobre as mesmas pernas finas e iguais também porque o sangue, que usamos tem pouca tinta. E se somos Severinos iguais em tudo na vida, morremos de morte igual, mesma morte severina: | que é a morte de que se morre de velhice antes dos trinta, de emboscada antes dos vinte de fome um pouco por dia (de fraqueza e de doença é que a morte severina ataca em qualquer idade, e até gente não nascida). Somos muitos Severinos iguais em tudo e na sina: a de abrandar estas pedras suando-se muito em cima, a de tentar despertar terra sempre mais extinta, a de querer arrancar alguns roçado da cinza. Mas, para que me conheçam melhor Vossas Senhorias e melhor possam seguir a história de minha vida, passo a ser o Severino que em vossa presença emigra. |
Morte e vida Severina Esta cova em que estás, com palmos medida É a conta menor que tiraste em vida É de bom tamanho, nem largo, nem fundo É a parte que te cabe deste latifúndio Não é cova grande, é cova medida É a terra que querias ver dividida É uma cova grande pra teu pouco defunto Mas estarás mais ancho que estavas no mundo | É uma cova grande pra teu defunto parco Porém mais que no mundo, te sentirás largo É uma cova grande pra tua carne pouca Mas a terra dada nao se abre a boca É a conta menor que tiraste em vida É a parte que te cabe deste latifúndio (É a terra que querias ver dividida) Estarás mais ancho que estavas no mundo Mas a terra dada nao se abre a boca |
Gonzagão em sua composição “O Último Pau de Arara”, retrata os percalços do retirante fugindo da seca do Nordeste. Era um tempo de êxodo em direção à cidade grande (década de 40 do século XX). O êxodo vem a ter continuidade nos anos 50/60 com o advento do governo de Juscelino Kubtschek e sua política de cinqüenta anos em cinco com a criação de Brasília.
último Pau de Arara A vida aqui só é ruim Quando não chove no chão Mas se chover dá de tudo Fartura tem de montão Tomara que chova logo Tomara meu Deus tomara Só deixo o meu cariri No último pau-de-arara (bis) | Enquanto a minha vaquinha Tiver o couro e o osso E puder com o chocalho Pendurado no pescoço Eu vou ficando por aqui Que deus do céu me ajude Quem sai da terra natal Em outros cantos não para Só deixo o meu cariri No último pau-de-arara (bis |
Gilberto Gil foi ministro da cultura no segundo governo de Luis Inácio Lula da Silva. Compositor, cantor, musicista, instrumentista compõe “Procissão” criticando a religiosidade do brasileiro e seu credo nos políticos que, através de promessas usam o povo para se perpetuar no poder. Acompanhem:
Procissão Olha lá Vai passando A procissão Se arrastando Que nem cobra Pelo chão As pessoas Que nela vão passando Acreditam nas coisas Lá do céu As mulheres cantando Tiram versos Os homens escutando Tiram o chapéu | O que Jesus prometeu E Jesus prometeu Coisa melhor Prá quem vive Nesse mundo sem amor Só depois de entregar O corpo ao chão Só depois de morrer Neste sertão Eu também Tô do lado de Jesus Só que acho que ele Se esqueceu De dizer que na Terra A gente tem De arranjar um jeitinho Pra viver | Eles vivem penando Aqui na Terra Esperando Muita gente se arvora A ser Deus E promete tanta coisa Pro sertão Que vai dar um vestido Pra Maria E promete um roçado Pro João Entra ano, sai ano E nada vem Meu sertão continua Ao Deus dará Mas se existe Jesus No firmamento Cá na Terra Isso tem que se acabar |
Todos nós já escrevemos um poema, um acróstico, uma frase sobre a Mulher Brasileira e essa capacidade de recuperação, de luta, de consenso, de vanguarda. Martinho da Vila por várias vezes já a homenageou. Não seria nesse trabalho que ela ficaria de fora. Saudemo-la:
CIDADÃ BRASILEIRA Mulher brasileira Que vai no mercado E pechincha na feira Mulher brasileira, mulher brasileira A bem sucedida, E a que está mal de vida Sem eira nem beira Mulher brasileira, mulher brasileira Mulher brasileira Cidadã brasileira | Ela é delegada Ela é deputada Prefeita e juíza Uma boa mulher Com um grande ideal É o que a gente precisa Sempre foi retaguarda Mas vai pra vanguarda De modo viril E é a esperança No futuro do Brasil Fiz amor com ternura Com uma doçura De fêmea guerreira Pra você fiz um samba Cidadã brasileira |
Martinho da Vila narra sua caminhada durante os anos que fazia sua graduação em direito. O Pequeno Burguês critica a sociedade onde só uma pequena parte da população tinha acesso formação superior nas universidades públicas, enquanto as camadas mais carentes disputavam as vagas em instituições privadas sem condições financeiras.
PEQUENO BURGUÊS Felicidade! Passei no vestibular Mas a faculdade É particular Particular! Ela é particular Particular! Ela é particular... Livros tão caros Tanta taxa prá pagar Meu dinheiro muito raro Alguém teve que emprestar O meu dinheiro Alguém teve que emprestar... O meu dinheiro Alguém teve que emprestar | Morei no subúrbio Andei de trem atrasado Do trabalho ia prá aula Sem jantar e bem cansado Mas lá em casa À meia-noite Tinha sempre a me esperar Um punhado de problemas E criança prá criar... Para criar! Só criança prá criar Para criar! Só criança prá criar... Mas felizmente Eu consegui me formar Mas da minha formatura Não cheguei participar Faltou dinheiro prá beca E também pro meu anel | vem o diretor careca Entregou o meu papel... O meu papel! Meu canudo de papel O meu papel! Meu canudo de papel... E depois de tantos anos Só decepções, desenganos Dizem que sou um burguês Muito privilegiado Mas burgueses são vocês Eu não passo De um pobre coitado E quem quiser ser como eu Vai ter é que penar um bocado Um bom bocado! Vai penar um bom bocado Um bom bocado! Vai penar um bom bocado Um bom bocado! |
AGRADECIMENTOS
Durante o curto período da montagem desse trabalho estive em companhia de pessoas, que se destacaram na sociedade brasileira como cantores, compositores, poetas, escritores, cronistas e outros. Alguns dos citados já seguiram sua viagem, outros, ainda continuam entre nós e mantenham por longo tempo, produzindo, para que possamos aplaudi-los.
Sabedor que um trabalho de pesquisa não se encerra e muito fica sem ser dito. Fiquemos no aguardo de outros momentos de nossa história contada e cantada pelo nosso cancioneiro.
Agradeço aqui a oportunidade do convívio com esses brasileiros especiais, como também a internet pela facilidade que nos proporciona.
Belford Roxo, 04 de abril de 2011-04-04
JOSÉ FLORIANO OLIVEIRA
JOSÉ FLORIANO OLIVEIRA
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