OBRIGADO DA MATTA
Hoje é Dia da Criança (12 de outubro), Dia da Padroeira do Brasil, dia do Cristo Redentor do Rio de Janeiro, Dia do Descobrimento do Brasil e futuro Dia de conscientização e Combate a Corrupção, a Ficha Suja, ao Direito do CNJ Julgar os Juízes.
FELIZ DIAS!
Todo dia é dia. Dia de Ver, Ouvir e Ler o jornal. Dia de tomar conhecimento das notícias do Brasil e do Mundo. Uns sonorizados, outros, como os escritos, silenciosos (mal se ouve o farfalhar da virada da folha seguinte). É através desses veículos, que o mundo chega até você.
Foi assim que tomei contato com a crônica do antropólogo Roberto da Matta me deixando muito pequenino e, ao mesmo tempo, orgulhoso por brasileiro por ter o privilégio de conhecer e conviver com tão ilustre personalidade que Além do seu saber, nos dá uma aula de como unir as palavras com tamanha simplicidade.
Após fazer a leitura de sua coluna em o Globo de 12 de outubro de 2011, parei para refletir sobre o Ser Humano e suas três fases: 1) a fase do aprender (do nascimento aos 25 anos); 2) a fase do produzir, da criação, de contestar (dos 25 anos até os 65 anos); 3) a fase do descansar e refletir (acima dos 65 anos).
Pensando assim, entendi que o ato de escrever, é um “Don”. A simplicidade do texto nos reporta e nos dão conta da importância do saber ler e, até mesmo, entender que as coisas mais óbvias estão ao nosso alcance. Por outro lado, entristecidos por saber que nem todos têm a condição, o acesso a coisas que, por meios diferenciados já conhecemos (a informação sonorizada), mas como se refere o próprio DaMatta, torna-se difícil memorizar eternamente, seu tempo é exíguo.
Todos nós já tivemos nossa “tia Amélia”. Todos nós, em algum momento, pegamos em um lápis ou caneta e deixamos que ela deslizasse sobre o papel (com maior ou menor facilidade), traduzindo nosso pensar, eternizando aquele momento de desabafo, de tristeza, de fuga, ou mesmo de amor.
É triste sabermos que mais de quarto da população brasileira não tem acesso a escrita, ou aqueles de pouca leitura, não alcançam plenamente o seu conteúdo tornando-se dependentes de pessoas desajustadas ou superajustadas.
Somos Privilegiados.
A escrita tem o “Dom” de nos transportar além do imaginável em forma silenciosa de exprimir e, ao mesmo tempo, de transportar o “MUNDO” para dentro de nosso “SER”.
Belford Roxo, 12 de outubro de 2011
José Floriano Oliveira
O QUE HÁ NA ESCRITA?
Roberto DaMatta
A todos nós foi dada a capacidade de falar, E a alguns a de escrever essa forma admirável de pensar. Nela falamos sem produzir sons, mas desenhando símbolos. O lado de dentro importa mais que o de fora. É normal escrever para si mesmo, já o falar nos leva a um hospício. Na fala e na escrita há ouvintes e leitores, mas na fala o interlocutor deve estar presente, pois as palavras exigem o outro. Já na escrita, é preciso desenrolar o pergaminho, abrir o livro ou carta para ouvir o seu autor (ou Autores) e descobrir o seu espírito e suas intenções. Ou imaginar o eventual leitor. Num caso, o som tem parentesco com o barulho e o caos; no outro, há aquele silêncio que é a marca maior do ato de escrever – essa nobre, essa soberana, essa orgulhosa e altruistica ação que só nós humanos, conhecemos, pois o escrever fica, mas o falar passa..
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Nestra semana rotineira com correios e bancos em greve, fico fascinado com a novidade de que o universo se expande - tal como o capitalismo chinês – em alta velocidade. Os chamados astrofísicos são mitômanos levados a sério, enquanto os do cinema e da televisão são jogados no lixo dessa nossa “baixa-modernidade”, como me ensinou Eduardo Portela. No caso dos astrofísicos, impressiona-me a sua obsessão com as origens do universo, algo que eles compartilham com os modestos pensadores tribais, os quais são parte da minha primeira vida como etnólogo, quando eu corria atrás de índios nas fronteiras do Brasil que ainda não tinham conseguido morder o próprio rabo.
Ouvi, transscrevi e li à exaustão mitos de origem. Aliás, a mais celebrada teoria do mito - a do consagrado Claude Lévi-Strauss – escrita no inicio dos anos 50 e desenvolvida na sua fabulosa tetralogia intitulada “Mytilogiques” (publicada entre 1964 e 1971), os mitos existem para responder perguntas sem resposta. Por que o mundo foi inventado? De onde veio a humanidade com a sua moral e seus meios de sobrevivência? Como foi que os animais se distinguiram dos homens? Por que são necessários dois seres humanos para fazer um? De onde veio a morte se no início dos tempos a humanidade era tão imortal quanto os membros da Academia Brasileira de Letras?
Os contadores de mitos das sociedades sem escrita, sem constituição e sem cálculos complexos (até hoje estigmatizadas como “selvagens” e ‘primitivas”), dizem que o humano foi inventado num tempo imemorial, implantado pelas palavras de uma língua cuja origem é, por sua vez, contada num outro mito, pois, conforme aprendi com Levj-Strauss e, sorri..., com Thomas Mann, um mito pensa e remete a outro mito, tal como a música, os livros, os deuses, a poesia e o amor se pensam indefinidamente entre si. Assim eles sabem como, mas não quando, o mundo surgiu. Já os nossos astrofísicos são mais apaixonados pelo quando do que pelo como.
Para qualquer ser humano, pensar em termos de nanossegundos é impossível, do mesmo modo que humanamente inconcebível imaginar uma unidade temporal para além de 10 mil anos. Pois, tirando os poetas que, como diz Kundera, dizem tudo, ninguém pode ter um sentimento de milhões de anos. Só uma fómula matemática traduz esse tempo intemporal. Mas entre a fórmula científica e a fórmula que eu ouvia de Tia Amália quando iniciava suas histórias – “isso aconteceu no tempo em que os bichos falavam...” -, eu acho mais razoável e, sorri novamente, até mesmo mais racional, ficar com Titia...
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Fiz uma conferência e ganhei uma caneta tinteiro. Na viagem de volta, preso na dura solidão coletiva de um avião lotado pelo duopólio aéreo instituído no lulopetismo, escrevi o meu velho nome. Fui imediatamente remetido a Juiz de Fora e a uma humilde escola do bairro dos operários, quando a professora nos iniciou na nobre arte de escrever à tinta. Tomei contato com as penas de metal que na ponta de um cilindro de madeira da pior qualidade (providenciada, é claro, pelo Ministério de Educaaação e cultura), serviam como instrumentos de escrita depois de serem mergulhados nos frascos cheios daquele misterioso líquido azul-marinho.
A mestra explicava eu a tinta beirava o “eterno”. Com o lápis tudo poderia ser apagado, como se não tivesse existido, exatamente como as palavras faladas a serem levadas pelo vento. Mas, com a tinta, esse material perigoso (e marcante) que teríamos que usar, as coisas ficavam. Qualquer descuido, caía um pingo no papel, manchando-o e dele tirando a pureza feita em branco; por outro lado, se a “pena” ficasse saturada, a escrita transbordava o papel. Fomos depois apresentados a um personagem importante: o mata-borrão, que, como um guardanapo à boa mesa, acompanhava o ato de escrever à tinta.
Escrever à tinta dá asas à fantasia de imortalidade. É a antessala do livro, do decreto, da placa de bronze e do “documento”. Pois entre nós – humanos – a execração, o ódio, e o insulto cabem também ou até mais no papel do que na fala. A fala, sendo curta e exigindo a pessoalidade, tem mais limites do que a carta escrita com maldade e ódio, vingança e ressentimento. Ademais, a “escrita”, como os decretos e as leis, pode ser anônima ou coletiva. Pois, como aprendi com aquela humilde professora, o que falamos fica na memória, mas o que foi escrito permanece. Seja como um ato de amor ou como prova de arrogância e de transtorno mental. Cuidado, dizia ela, com o que você escreve a tinta – com aquilo que, impresso, não pode ser apagado.
O Globo, 12 de outubro de 2011
Sartre dizia que o momento da leitura é de pura fruição, em que o leitor complementa a obra com o seu olhar, sua interpretação, dando o toque final à obra criada essencialmente para quatro mãos.Concordo plenamente com esta idéia! Há uma troca de energias, expectativas, objetivos claros e subjetivos, simbiose.
ResponderExcluirCaio Fernado Abreu incentiva a leitura e a escrita de forma ímpar, forte e intensa, como ele todo:
"Escrever – e você sabe disso – pode eliminar essa sensação de gratuidade no existir, de coisas o tempo todo fugindo e se transformando em passado. Eu acho então que se escrever te dá um sentido para estar vivo (ou a ilusão de um sentido, que importa?), então VAI E ESCREVE E DIZ TUDO E RASGA O CORAÇÃO AS VÍSCERAS, EXPÕE TUDO, GRITA, ESPERNEIA – NO PAPEL."
Olha Floriano, o quanto uso esta citação para incentivar e motivar os reeducandos sobre a importância de externar, organizar e botar pra fora, no papel, a dor e a saudade, comuns e dilacerantes em ambiente de confinamento.Gratificante promover a produção e tomar contato com os benefícios que só as letras e o imaginário promovem.
Abração